Projeto Diálogos chega em Rondônia para ouvir o que os jovens têm a dizer

Há 31 minutos
Atualizado terça-feira, 11 de novembro de 2025

Da Redação

Tem algo de muito inovador quando um tribunal resolve parar de falar e começar a ouvir. Foi exatamente isso que aconteceu em Rondônia na primeira semana de novembro, quando o projeto Diálogos com as Juventudes desembarcou no estado, marcando sua estreia na Região Norte. Ali, entre carteiras escolares e quadros-negros, magistrados trocaram togas invisíveis por uma postura que o Judiciário ainda está aprendendo a cultivar: a da escuta genuína.

Na quinta-feira, 6 de novembro, a Escola Estadual Murilo Braga, em Porto Velho, recebeu algo diferente do currículo habitual. Não era uma palestra sobre leis distantes ou uma aula decoreba sobre cidadania. Era um convite ao diálogo — desses de verdade, onde perguntas importam mais que respostas prontas. No dia seguinte, a caravana seguiu para Ariquemes, 200 quilômetros adiante, onde a Escola Estadual Heitor Villa-Lobos deu continuidade às conversas. Ao todo, mais de 100 jovens participaram dos encontros.

O desembargador Alexandre Miguel, diretor da Escola da Magistratura de Rondônia (Emeron), deixou claro logo na abertura que ali não se tratava de uma via de mão única. “Este projeto é muito significativo, porque fala diretamente sobre cidadania e direitos humanos, temas que dizem respeito a todos nós”, disse ele aos estudantes, antes de completar com uma frase que resume bem o espírito da iniciativa: “Saibam o quanto vocês são importantes”.

E os jovens mostraram que sabem, sim, da própria importância. Quando as magistradas Ana Lucia Mortar, Fabíola Cristina Inocêncio, Fani Angelina de Lima e Úrsula Gonçalves Theodoro de Faria Souza propuseram dinâmicas sobre temas como racismo estrutural, violência doméstica e acesso à Justiça, as respostas vieram carregadas de vivência, percepção e até incômodo — o tipo produtivo de incômodo.

Negro Drama: quando o rap vira espelho

Um dos momentos mais potentes aconteceu quando o clipe de “Negro Drama”, do Racionais MCs, tomou conta da tela. Lançada há mais de 20 anos, a música continua cortante como navalha. Os olhos fixos dos estudantes diziam muito: ali estava um Brasil que eles reconheciam, um país que a letra expõe sem filtro.

“Se formos prestar atenção, tudo isso que eles falam é realmente para tentar abrir a mente das pessoas”, refletiu um dos jovens. Outro foi ainda mais longe: “O racismo estrutural na nossa sociedade acontece até mesmo depois que as pessoas morrem”.

São falas que revelam uma geração que não precisa de tutela, mas de espaço. Que já entende de Lei n. 14.532/2023 — aquela que tipifica racismo e injúria racial — não porque decorou artigos, mas porque vive suas consequências.

Mais que um projeto, uma ponte

O Diálogos com as Juventudes é fruto de uma parceria entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), dentro do programa Justiça Plural. Com apoio técnico da ONG Viração, que há duas décadas trabalha educomunicação com foco em jovens, a iniciativa já passou por Mato Grosso, Sergipe e Espírito Santo antes de chegar a Rondônia. Ainda este ano, desembarca no Distrito Federal.

A proposta não é formar mini juristas nem domesticar inquietações. É criar pontes — entre o sistema de Justiça e a vida real, entre normas e histórias, entre quem julga e quem é julgado por uma sociedade que ainda tem muito a aprender sobre equidade.

Quando um tribunal sai dos seus prédios de mármore e vai até uma escola do interior ouvir adolescentes falando sobre rap, racismo e direitos, algo está mudando. Devagar, é verdade. Mas está. E quem aposta que essas juventudes não vão cobrar que essa mudança se aprofunde?

Elas já mostraram, entre perguntas, reflexões e olhares atentos, que sabem exatamente do que estão falando. Agora é esperar — e exigir — que a Justiça continue ouvindo.

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