Por Carolina Villela
A relação entre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), que já não era das melhores, pode ter azedado de vez. Pelo menos, por enquanto. O clima de tensão e animosidade entre os dois se agravou durante a tramitação do PL Anti-facção, aprovado na semana passada pelos deputados federais, e ganhou novos capítulos com trocas de farpas públicas nas redes sociais.
Lindbergh reclamou publicamente, diversas vezes, da escolha de Guilherme Derrite (PP-SP) como relator da proposta, enviada pelo governo do presidente Lula, e das várias versões de texto apresentadas. Motta, por sua vez, rebateu as críticas e disse que se tratava de um projeto do país e não de lado A ou lado B. Insatisfeito com a conduta de Farias, o presidente da Câmara teria sinalizado a aliados que não vai mais acolher nada que venha do líder do PT.
Motta critica polarização sem citar nomes
Em um vídeo publicado nas redes sociais, sem citar nomes, Motta afirmou que “em tempos tão polarizados, ter sensibilidade é enxergar o valor antes de enxergar a origem”. Ele continuou: “não importa se a ideia vem da esquerda ou da direita. Pra mim, importa se ela serve ao Brasil”. A mensagem foi interpretada como uma indireta ao líder petista.
A resposta veio também pela internet. Em uma postagem, Lindbergh Farias acusou o presidente da Câmara dos Deputados de adotar uma “conduta imatura” na condução da Casa. O petista afirmou ainda que Motta atua “na surdina”, sem transparência em suas decisões políticas.
“Sempre atuei de forma clara e com posições coerentes, nunca na surdina e erraticamente, como agiu o presidente da Câmara na derrubada do IOF, na PEC da Blindagem e na escolha do deputado Guilherme Derrite como relator de um PL de autoria do Poder Executivo”, declarou Farias.
Líder do PT critica postura do presidente da Câmara
O líder do PT afirmou que considera imatura a posição de Hugo Motta e que política não se faz como clube de amigos. “Minhas posições políticas são transparentes e previsíveis”, enfatizou o deputado fluminense, reforçando seu compromisso com uma atuação clara e coerente na liderança da bancada petista.
Farias encerrou a declaração atribuindo a Hugo Motta a responsabilidade por uma possível crise de confiança na relação entre o governo e o presidente da Câmara. Segundo o líder petista, o desgaste tem origem nas próprias escolhas do presidente da Casa.
“Isso tem mais a ver com as escolhas que o próprio Hugo Motta tem feito. Ele que assuma as responsabilidades por suas ações e não venha debitar isso na minha atuação como líder da Bancada do PT”, afirmou Lindbergh, jogando a bola no campo do adversário político.
Motta silencia e enfrenta nova pressão da oposição
Motta não respondeu até o momento as declarações de Lindbergh Farias. Mas o presidente da Câmara agora vai ter que lidar com a pressão política que vem de outro lado: a oposição bolsonarista.
Após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no sábado (22), a oposição voltou a se mobilizar pela votação da Anistia. Deputados bolsonaristas anunciaram que irão cobrar o presidente da Câmara para que a proposta de anistia aos réus do 8 de Janeiro seja pautada ainda esta semana.
A bancada de oposição classifica o tema como urgente para a pacificação nacional e a restauração da segurança jurídica. A pressão coloca Motta em uma posição delicada, tendo que equilibrar as demandas da oposição com a necessidade de manter a governabilidade e o diálogo com a base governista, já fragilizado pelo embate com Lindbergh Farias.
Embate reflete tensões no Congresso Nacional
O desgaste na relação entre Motta e Lindbergh pode comprometer o andamento de pautas consideradas prioridade pelo Palácio do Planato. O desgaste pode respingar também no Senado, já que a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, por Lula à vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) teria desagradado o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP).
A aprovação do Anti-facção, que foi o estopim do conflito, será analisado pelos senadores. A proposta que cria o marco legal para enfrentar organizações criminosas, com penas de 20 a 40 anos, novos tipos penais e regras para líderes de facções. O relator, senador Alessandro Vieira (MDB‑SE), informou que o texto ainda exige ajustes técnicos para evitar brechas na tipificação de crimes ultra‑violentos.



