O Supremo Tribunal Federal conduz hoje os interrogatórios de dez réus vinculados ao núcleo militar da suposta conspiração golpista. O grupo inclui oito militares das forças especiais, conhecidos como “kids pretos”, e um agente da Polícia Federal, todos suspeitos de articular estratégias para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Primeira Turma do STF examina as acusações contra os integrantes do denominado núcleo 3 da investigação. Segundo a Procuradoria-Geral da República, esses profissionais teriam desenvolvido táticas operacionais específicas para manter Jair Bolsonaro no comando do país após as eleições de 2022.
O ministro Alexandre de Moraes atua como relator do processo que investiga as ações do grupo. As investigações apontam para um planejamento detalhado de operações que visavam contornar o resultado das urnas eletrônicas.
Plano incluía assassinato de autoridades
A acusação mais grave envolve a suposta conspiração para eliminar figuras-chave do governo eleito. Entre os alvos estariam o próprio presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Documentos da investigação revelam que membros do grupo realizaram monitoramento da localização de Moraes. Chegaram inclusive a se deslocar até proximidades da residência do ministro em Brasília, segundo os autos do processo.
O objetivo seria executar a captura ou mesmo o assassinato do relator da operação. Essa informação consta dos elementos probatórios reunidos pela Procuradoria-Geral da República durante as investigações.
General assume autoria de documento
Durante seu depoimento na quinta-feira, o general Mario Fernandes admitiu ter elaborado material relacionado ao plano. Ele afirmou ter “digitalizado um pensamento” e produzido cópias impressas para análise posterior em formato físico.
A confissão representa um marco nas investigações, sendo a primeira vez que um dos envolvidos assume participação direta. O general detalhou o processo de criação do documento durante sua oitiva perante os ministros da Primeira Turma.
Operação foi cancelada por falta de apoio institucional
As investigações indicam que o plano foi abandonado devido à ausência de respaldo do Alto Comando do Exército. A falta de apoio explícito da cúpula militar teria levado o grupo a desistir da execução das ações planejadas.
O cancelamento ocorreu em momento crítico, quando as operações já estavam estruturadas e os participantes mobilizados. Essa decisão de última hora impediu que as ações fossem colocadas em prática contra as autoridades alvejadas.
Agente federal fez declarações em áudios
Wladimir Matos Soares, policial federal preso preventivamente desde novembro, teria enviado mensagens de áudio comprometedoras. Nas gravações, ele mencionou fazer parte de um núcleo armado preparado para “tomar tudo” e “matar meio mundo”.
Embora esses áudios não integrem esta fase processual, eles compõem o conjunto probatório da investigação. As mensagens foram obtidas durante as apurações conduzidas pela Polícia Federal em colaboração com o STF.
Defesa alega inocência dos acusados
Os advogados dos réus contestam as acusações e negam a existência de qualquer conspiração golpista. Segundo a defesa, as reuniões investigadas eram apenas encontros sociais de confraternização entre colegas de profissão.
A estratégia defensiva cita relatórios do próprio Exército que supostamente confirmam o caráter rotineiro desses encontros. Os advogados argumentam que era habitual que esses militares se reunissem em eventos sociais diversos.