Por Hylda Cavalcanti
Um dos temas que está fora do julgamento desta terça-feira (21/10), mas repercutiu no Supremo Tribunal Federal (STF) e foi alvo de comentários entre advogados e jornalistas diz respeito à recente briga, tornada pública, entre o jornalista Paulo Figueiredo, um dos réus por articulação de tentativa de golpe de Estado, e o advogado Jeffrey Chiquini, que faz a defesa de outro réu — o ex-assessor do governo Bolsonaro, Filipe Martins.
Chiquini, cujo perfil foi elaborado e publicado pelo HJur, tem chamado a atenção nos últimos meses pela sua atuação como advogado e ao mesmo tempo pela forma como se comporta, uma mistura de defensor e militante incisivo da direita. Como se não bastasse as críticas que ele já fez aos ministros do STF e até à Procuradoria-Geral da República, nos últimos dias também bateu boca com Figueiredo.
Entrada ou não nos EUA?
Tudo se deu porque Chiquini apresentou um documento, na semana passada, do órgão de migração dos Estados Unidos afirmando que Filipe Martins não entrou no país em 30 de dezembro de 2022, conforme consta na ação penal (AP) 2693 que o tem por um dos réus da tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no STF, estabeleceu prazo para a Polícia Federal se pronunciar a respeito. Na noite de ontem, a PF afirmou que o órgão oficial do governo norte-americano confirmou que o ex-assessor da presidência da República chegou a Orlando, na Flórida, na data citada.
‘Fruto de falha’
Em meio à dúvida sobre as informações divergentes de órgãos dos Estados Unidos, que estão sendo investigadas, Paulo Figueiredo afirmou, durante entrevista, que a inserção dos dados de Filipe Martins nos registros de entrada dos Estados Unidos em 2022 pode ter sido fruto de uma falha e não, necessariamente, um ato criminoso para prejudicá-lo.
Figueiredo também afirmou, conforme informações do Portal Metrópoles e sites de jornalistas do Paraná e de Santa Catarina, como o BNBrasil, que “independentemente da origem, o caso Martins já seria grave por si só”.
Foi o que levou Chiquini à ira, uma vez que tem ressaltado desde a última semana que o seu cliente é “a bala de prata” da ação penal 2693. E, que, de acordo com ele, “vai conseguir provar que a tentativa de golpe de Estado foi uma farsa”.
‘Somente atrapalha’
Chiquini afirmou que a falha levantada por Figueiredo consiste em declaração que “somente atrapalha” a tese da sua argumentação no STF. Além disso, durante uma live com o comunicador Marco Antônio Costa, ele sugeriu que existe uma proximidade entre Figueiredo e o ministro do STF Gilmar Mendes.
Horas depois, o advogado chamou a discussão de “águas passadas” e disse que tudo foi resolvido. “O nosso foco é o mesmo. A vitória da direita e liberdade para Filipe Martins. Não queremos mais tocar nesse assunto. Paulo Figueiredo é muito respeitado por toda a direita. E Filipe Martins é o herói da direita. Nosso objetivo é comum”, frisou.
Interesses eleitorais
Figueiredo, entretanto, não se posicionou da mesma forma. Disse que a acusação de ter proximidade com Gilmar Mendes não procede porque ele tem atuado para que o ministro seja alvo de sanções do governo dos Estados Unidos.
E acusou o advogado de “colocar interesses eleitorais acima dos da defesa de Filipe Martins”, já que Chiquini declarou que tem interesse em disputar uma vaga ao Senado em 2026. “Estou acostumado a entrar em choque com picaretas. Doutor Chilique (forma pejorativa com a qual se referiu a Chiquini) é só mais um”, destacou.
Pessoas que acompanham a sessão do STF passaram a manhã em estado de alerta para saber se seria divulgada alguma resposta ou declaração ácida de um contra o outro, mesmo pela mídia ou do lado de fora do Tribunal. Mas, pelo menos até o meio dia, o clima foi de tranquilidade, com a leitura dos votos dos ministros Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin Martins.