Por Carolina Villela
O ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu ter usado um ferro de solda para tentar abrir a tornozeleira eletrônica que usava desde julho de 2025. A confissão foi registrada em vídeo durante vistoria realizada pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (SEAP-DF), na madrugada deste sábado (22), após o sistema de monitoramento acusar violação do equipamento. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do relatório e das imagens que comprovam a adulteração.
Bolsonaro foi preso pela Polícia Federal na manhã de sábado e está detido em uma sala de Estado Maior, reservada para autoridades como ex-presidentes, na Superintendência da PF em Brasília. A prisão preventiva foi decretada por Moraes a pedido da Polícia Federal, que apontou risco de fuga. Além da violação do equipamento de monitoramento, a convocação de uma vigília para a noite de sábado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, foi determinante para a conversão da prisão domiciliar em preventiva.
Marcas de queimadura revelam tentativa de rompimento
O relatório da SEAP-DF descreve detalhadamente o estado da tornozeleira quando os agentes chegaram à residência de Bolsonaro. Diferente da versão inicial apresentada pelo monitorado, que alegou ter batido o dispositivo na escada, a perícia constatou “sinais claros e importantes de avaria”. O documento aponta que “havia marcas de queimadura em toda sua circunferência, no local do encaixe/fechamento do case”, indicando tentativa de abertura do equipamento.
O sistema de monitoração eletrônica emitiu o alerta de violação às 00h07 do dia 22 de novembro. Imediatamente, a equipe de escolta posicionada nas imediações da residência foi acionada, assim como a direção da unidade. Os policiais penais realizaram contato com Bolsonaro solicitando apresentação para verificação, enquanto a diretora adjunta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (CIME),Rita Gaio, se deslocou até o local.
Após análise em ambiente com boa iluminação, foi constatado que o equipamento não apresentava sinais de impacto físico acidental. Foi neste momento que Bolsonaro, questionado sobre o instrumento utilizado, confessou ter usado ferro de solda na tentativa de abrir a tornozeleira.
Veja o momento em que Bolsonaro confessa violação
- Diretora: Equipamento 85916-5. O senhor usou alguma coisa pra queimar?
- Bolsonaro: Meti um ferro quente aqui.
- Diretora: Ferro quente?
- Bolsonaro: Curiosidade.
- Diretora: Que ferro foi? Ferro de passar?
- Bolsonaro: Não. Ferro de soldar, solda.
- Diretora: Ferro de soldar? Aquele que tem uma ponta?
- Bolsonaro: Sim.
- Ao ser questionado sobre o horário em que começou a violar o equipamento, Bolsonaro respondeu: final da tarde.
Substituição do equipamento e manifestação da defesa
O dispositivo violado, de número de série 85916, foi substituído por outro equipamento, de número 85903. Após confirmação de funcionamento regular, captação contínua de sinal e teste de tração, o ex-presidente foi liberado para retornar ao repouso. A tornozeleira danificada foi recolhida como evidência, e a equipe de escolta retornou ao posto de vigilância externo à residência.
O ministro Alexandre de Moraes determinou que a defesa de Bolsonaro se manifeste no prazo de 24 horas sobre a violação do equipamento. Após a manifestação da defesa, a Procuradoria-Geral da República (PGR) também deverá se pronunciar no mesmo prazo. A decisão de retirar o sigilo dos documentos foi justificada pelo ministro devido às “inúmeras informações errôneas” que vinham sendo divulgadas sobre o caso.
Moraes também ordenou que cópias do relatório e do vídeo sejam enviadas para a Ação Penal (AP) 2668, processo que tramita no STF. O relatório destaca ainda que não foram identificados sinais de avaria na pulseira do equipamento, apenas no case de fechamento.
Convocação de vigília agrava situação
A situação de Bolsonaro se agravou após o senador Flávio Bolsonaro convocar apoiadores para uma vigília na noite de sábado. A convocação foi interpretada pela Polícia Federal e pelo ministro Alexandre de Moraes como um indicativo adicional de risco à ordem pública e possível tentativa de mobilização para dificultar o cumprimento de decisões judiciais. Este fator, somado à violação comprovada da tornozeleira, levou à conversão da prisão domiciliar em prisão preventiva.
O ex-presidente permanece monitorado pelo CIME através do novo equipamento instalado. A equipe de escolta continua posicionada nas imediações do local de detenção, garantindo o cumprimento da ordem judicial.
Bolsonaro foi condenado em setembro pela Primeira Turma do STF por tentativa de golpe de Estado a 27 anos e 3 meses de prisão. A tornozeleira eletrônica havia sido instalada em 18 de julho de 2025, como medida cautelar determinada pela Justiça. Em agosto, após descumprimento de determinações do STF, Moraes decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro.



