Candidato derrotou Andrew Cuomo e se tornou o primeiro prefeito muçulmano da cidade e o mais jovem em mais de um século
Zohran Mamdani, de 34 anos, foi eleito prefeito de Nova York nesta terça-feira (5), após liderar uma campanha centrada em propostas progressistas e no combate ao alto custo de vida na cidade. Ele será o primeiro muçulmano a comandar o Executivo municipal e também o mais jovem prefeito nova-iorquino dos últimos cem anos.
A Associated Press declarou a vitória de Mamdani apenas 35 minutos após o fechamento das urnas. Ele conquistou 50,4% dos votos, superando o ex-governador Andrew Cuomo (41,6%) e o republicano Curtis Sliwa (7,1%), com 91% das urnas apuradas.
Votação histórica em meio à baixa participação nacional
Mais de 2 milhões de nova-iorquinos compareceram às urnas, quase o dobro do registrado na eleição anterior para prefeito, em 2021. Mamdani foi o primeiro candidato desde John V. Lindsay, em 1969, a ultrapassar a marca de 1 milhão de votos em uma disputa municipal.
A participação se destacou principalmente em regiões como Brooklyn, Queens e Manhattan, atingindo níveis semelhantes aos de eleições presidenciais.
Nova coalizão democrática impulsionou vitória
Ao contrário da aliança tradicional dos democratas nova-iorquinos — que reúne liberais brancos, negros, latinos e judeus ortodoxos — Mamdani formou uma nova coalizão. Ele somou apoio entre jovens moradores de bairros em processo de gentrificação, como Bushwick e Williamsburg, além de imigrantes sul-asiáticos de baixa renda em Queens e no Bronx.
Com isso, venceu com folga em áreas como o Brooklyn mais abastado e o norte de Manhattan, além de obter crescimento expressivo em comunidades negras e latinas onde antes enfrentava resistência.
Campanha milionária de Cuomo não foi suficiente
Apesar do apoio de bilionários como Michael Bloomberg e Bill Ackman, que investiram mais de US$ 40 milhões por meio de super PACs, Cuomo não conseguiu virar o jogo. Os ataques a Mamdani incluíram críticas a sua ideologia socialista, posição sobre Gaza e até campanhas com viés islamofóbico — como um anúncio que o colocava diante das Torres Gêmeas em colapso.
Mamdani rebateu as críticas com firmeza, dizendo que se tratava de uma tentativa das elites de impedir mudanças reais. A campanha do socialista levantou cerca de US$ 10 milhões, em sua maioria de pequenos doadores.
Avanço em bairros de maioria negra e latina
Durante as primárias, Mamdani teve dificuldades em regiões como Brownsville (Brooklyn) e Kingsbridge (Bronx). No entanto, no pleito final, reverteu esse cenário com vitórias expressivas. No Bronx, superou Cuomo por 11 pontos percentuais — uma virada notável em relação à derrota por 18 pontos no mesmo local meses antes.
Líderes comunitários atribuíram essa mudança ao foco do candidato em questões como moradia acessível, transporte e custo de vida. Segundo Ana María Archila, do Partido das Famílias Trabalhadoras, a eleição representa um recado das classes populares e médias insatisfeitas com o sistema político tradicional.
Cuomo vê reputação desmoronar
Ex-governador e antes considerado um presidenciável, Cuomo acumula sua segunda derrota consecutiva em apenas cinco meses. Apesar de ainda atrair votos entre parte do eleitorado judeu e negro, sua aproximação com a base republicana e o apoio de Donald Trump não foram suficientes para deter Mamdani.
Para muitos eleitores, a derrota do ex-governador representa o fim de uma era. “Cuomo? Já deu”, resumiu Alexis Pierson, designer de interiores do Brooklyn.
Ricos divididos nas urnas
A disputa escancarou também a divisão entre os mais ricos da cidade. Enquanto Cuomo venceu no Upper East Side e em áreas de Manhattan com imóveis milionários, Mamdani saiu vitorioso em bairros como Park Slope e Brooklyn Heights, onde vive a elite cultural e criativa da cidade.
Discurso marca novo ciclo político
Ao subir ao palco após a confirmação da vitória, Mamdani citou o líder socialista Eugene Debs: “Consigo ver o amanhecer de um novo dia para a humanidade”. Diante de uma plateia emocionada, completou: “Esta cidade pertence a vocês”.



