A disputa pela presidência do Chile será definida em segundo turno entre dois nomes que representam polos opostos da política nacional: a ex-ministra Jeannette Jara, do Partido Comunista, e o deputado ultradireitista José Antonio Kast, do Partido Republicano. A votação decisiva está marcada para o dia 14 de dezembro.
O resultado foi confirmado após a apuração de 62,7% dos votos, com Jara na frente com 26,6%, seguida por Kast, que obteve 24,2%. Nenhum dos oito candidatos alcançou a maioria absoluta, o que forçou o segundo turno. A definição do novo presidente acontece em meio a um cenário de polarização, insegurança e desconfiança institucional no país.
Fragmentação no campo da direita favoreceu Jara
A candidatura de Jeannette Jara foi construída com o apoio da coalizão governista, na tentativa de manter a esquerda no poder após o mandato do presidente Gabriel Boric, que não pode se reeleger de forma consecutiva. Com um discurso centrado no crescimento com inclusão social, Jara superou a impopularidade do governo atual e se firmou como representante da continuidade progressista.
O campo da direita, por sua vez, chegou dividido ao pleito. Além de Kast, concorreram Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, que obteve 13,9%, e Evelyn Matthei, da UDI, com 13%. A fragmentação foi apontada como um dos fatores que impediram uma vitória conservadora já no primeiro turno.
Apesar disso, Kast conseguiu apoio imediato de seus concorrentes, com Matthei e Kaiser declarando publicamente que irão trabalhar por sua vitória na nova rodada eleitoral. Kast defende uma agenda baseada em combate à criminalidade e à imigração ilegal, temas que dominaram o debate público.
Populista e independentes ficaram atrás
O candidato Franco Parisi, do Partido do Povo, surpreendeu ao conquistar bons resultados nas regiões do norte chileno, como Arica, Tarapacá, Antofagasta e Atacama. Seu discurso de viés populista tirou votos tanto da esquerda quanto da direita.
Também participaram do pleito os independentes Marco Enríquez-Ominami, Eduardo Artés e Harold Mayne-Nicholls, que não ultrapassaram a barreira dos 5% cada um.
Clima de cansaço eleitoral e voto obrigatório
Desde os protestos sociais de 2019, os chilenos têm sido convocados repetidamente às urnas, o que gerou certa saturação e aumento do descontentamento popular com o processo político. Ainda assim, a volta do voto obrigatório contribuiu para o aumento da participação eleitoral neste domingo (16), marcado por longas filas e atrasos no encerramento da votação.
Mais de 15 milhões de eleitores estavam aptos a votar no Chile e no exterior. Em regiões metropolitanas como Santiago e Valparaíso, eleitores relataram dificuldades de acesso aos centros de votação, o que levou à ampliação do horário em algumas zonas eleitorais.
Boric mantém neutralidade e pede respeito ao processo
O presidente Gabriel Boric votou em sua cidade natal, Punta Arenas, acompanhado da filha e do pai. Ao ser abordado pela imprensa, declarou que, por estar no cargo, não faria declarações de apoio a nenhum dos candidatos. À noite, após os resultados preliminares, parabenizou os finalistas e apelou ao diálogo e ao respeito à democracia.
“O diálogo, o respeito e o carinho pelo Chile devem prevalecer”, disse Boric, evitando interferências diretas no segundo turno.
Segunda fase da campanha já começou
O clima político deve se intensificar até 14 de dezembro. Jara tenta ampliar seu apoio atraindo eleitores moderados, enquanto Kast costura alianças com os setores derrotados da direita. Ambos já se pronunciaram sobre a importância da unidade nacional, mas apresentam visões antagônicas sobre o futuro do Chile.
Enquanto Jara propõe políticas sociais e valorização do papel do Estado, Kast promete medidas duras de segurança, restrição à imigração e redução do aparato estatal. O embate ideológico deve marcar profundamente o segundo turno.



