Mais de 60 suspeitos ligados ao Comando Vermelho tiveram prisão decretada com base em provas de violência, controle social e expansão criminosa
A decisão da 42ª Vara Criminal do Rio de Janeiro que embasou a Operação Contenção revelou um retrato alarmante da atuação do Comando Vermelho no Complexo da Penha e em comunidades vizinhas. O documento, assinado pelo juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço, descreve uma rotina de tortura, intimidação armada de moradores e um sistema hierárquico violento que impõe o controle territorial nas áreas dominadas pela facção.
A operação, deflagrada nesta terça-feira (28) pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, teve como base um inquérito aberto em janeiro de 2024 a partir de denúncia anônima. A investigação apontou reuniões de lideranças do Comando Vermelho para planejar a expansão para territórios controlados por milícias, principalmente na zona oeste.
Prisões e provas de práticas cruéis
Na decisão, o magistrado decretou a prisão preventiva de mais de 60 suspeitos, entre eles nomes apontados como chefes da facção, como Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, Carlos da Costa Neves (Gardenal), Washington César Braga da Silva (Grandão ou Síndico da Penha) e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues (BMW).
Interceptações telefônicas, vídeos, mensagens e fotos compõem o material que sustentou a medida judicial. Segundo o juiz, há provas consistentes de crimes de tortura e associação para o tráfico, com uso de armas de fogo e envolvimento de adolescentes.
Organização paramilitar e domínio social
A investigação revelou uma estrutura semelhante a um exército irregular, com divisão de funções entre chefes, operadores financeiros, gerentes do tráfico e soldados armados. As ordens tratavam desde plantões de segurança até punições violentas a moradores.
Entre os destaques do relatório, estão os registros de BMW liderando um grupo chamado “Grupo Sombra”, que seria responsável por treinar criminosos no uso de armamentos pesados e aplicar castigos físicos. Um dos vídeos mostra uma vítima, Aldenir Martins do Monte Júnior, sendo torturada até a morte enquanto cita o nome do chefe da equipe.
Expansão territorial e articulações perigosas
Gardenal foi descrito como articulador da expansão violenta do Comando Vermelho em áreas de Jacarepaguá. Ele aparecia em vídeos com armas e carros de luxo, além de liderar grupos de WhatsApp usados para repassar ordens a subordinados.
Grandão, por sua vez, era o gerente geral do tráfico na Penha e ainda teria mantido contato direto com um oficial da PM, que teria solicitado apoio para recuperar um carro roubado.
Risco à ordem pública e manutenção da prisão
O juiz Picanço justificou a prisão preventiva com base no risco de continuidade das ações criminosas, afirmando que muitos dos investigados possuem longo histórico de infrações. Até mesmo os réus sem antecedentes foram flagrados com armas, drogas e rádios comunicadores em pontos de venda de entorpecentes.
O documento afirma que a organização atua em pelo menos 12 comunidades da zona norte e que sua estrutura demonstra estabilidade e permanência, o que reforça a necessidade das prisões.
Ao todo, foram decretadas prisões preventivas para 51 acusados e medidas cautelares diversas para outros 17. O governo não divulgou a lista dos presos ou identificou os mortos na operação.
 
								



 
															 
															 
															 
															 
															 
															 
															 
															