Por Carolina Villela
Os advogados de Jair Bolsonaro contestaram nesta manhã a credibilidade da colaboração premiada de Mauro Cid e denunciaram dificuldades para analisar o volumoso material probatório do processo. Durante as sustentações orais, a defesa argumentou que não há evidências que liguem o ex-presidente aos eventos de 8 de janeiro de 2023 e questionou a viabilidade técnica para examinar os 70 terabytes de dados fornecidos pela investigação.
Celso Vilardi, um dos defensores de Bolsonaro, classificou o julgamento como histórico por envolver um ex-presidente da República. O advogado iniciou sua argumentação ressaltando que o processo começou com uma minuta e a colaboração premiada, mas evoluiu para “uma série de fatos impressionantes”.
Durante sua fala, Vilardi afirmou que “não há uma única prova” que vincule Bolsonaro aos atos de 8 de janeiro. O defensor concentrou sua defesa contra a figura do delator Mauro Cid, questionando sua confiabilidade como testemunha.
Críticas à delação de Mauro Cid
A defesa direcionou forte crítica à proposta da Procuradoria-geral da República (PGR) para homologar a delação de Mauro Cid. Vilardi classificou a medida como “algo que não existe aqui e em nenhum lugar do mundo”, contestando os procedimentos adotados no processo.
O advogado destacou as contradições nas versões apresentadas pelo tenente-coronel colaborador. Segundo Vilardi, Cid “mudou as versões várias vezes e mentiu”, comprometendo a credibilidade de seu depoimento. As inconsistências no relato do delator foram apontadas como evidência de sua falta de confiabilidade.
Para reforçar seus argumentos, a defesa anexou aos autos provas sobre um perfil falso no Instagram que teria sido usado por Cid. O material estaria instalado no celular do próprio tenente-coronel, segundo informações apresentadas pela defesa.
Acesso limitado ao material probatório
Um dos principais pontos levantados pela defesa foi a dificuldade para analisar o extenso material coletado pela investigação. Vilardi afirmou categoricamente: “Eu não conheço a íntegra desse processo”, criticando as condições de acesso às evidências.
A defesa alegou não ter tido tempo suficiente para examinar os 70 terabytes de dados disponibilizados pela Polícia Federal. O volume representa “bilhões de documentos” que demandaram análise detalhada, segundo os argumentos apresentados.
Vilardi comparou o tempo disponível para a defesa com aquele utilizado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público na investigação. A disparidade temporal foi apresentada como prejuízo ao direito de defesa do ex-presidente.
Argumentos sobre atos preparatórios
Celso Vilardi por fim, se insurgiu contra a punição de atos preparatórios. Para o defensor, uma “cogitação de pena acima de 30 anos para um ato específico, que não foi consumado, não é razoável”.
Vilardi sustentou que não é possível vincular atos de violência ou grave ameaça às ações públicas de Bolsonaro. Os discursos e lives realizadas pelo ex-presidente não configurariam os crimes imputados na denúncia, segundo a argumentação apresentada.
O advogado enfatizou que Bolsonaro não demonstrou intenção real de prosseguir com medidas excepcionais. “Não se tem um rascunho, não se tem um mínimo de identificação de que se pudesse prosseguir com isso”, declarou Vilardi durante sua sustentação.
Ausência de mecanismos efetivos para golpe
Paulo Cunha Bueno, outro advogado da defesa, assumiu a sustentação oral argumentando que, caso Bolsonaro realmente pretendesse implementar um golpe de Estado, teria mecanismos constitucionais disponíveis. Bueno mencionou que o estado de sítio ou estado de defesa poderiam ter sido adotados por vias legais.
A falta de adesão dos chefes do Exército e da Aeronáutica foi citada como evidência adicional. Segundo a defesa, esses comandantes poderiam ter sido substituídos caso houvesse real intenção golpista por parte do ex-presidente.
Bueno encerrou sua fala com um apelo pela absolvição de Bolsonaro.
As sustentações orais continuam (AP 2668).