homem branco, de pé discursando da tribuna da Câmara dos Deputados, veste terno cinza, camisa branca e gravata azul

Deputado federal e secretário do Pará são alvos de operação contra suposto esquema de corrupção

Há 4 horas
Atualizado terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Da redação

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou uma operação da Polícia Federal contra um suposto esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e crimes eleitorais no Estado do Pará. A decisão determinou busca e apreensão, bloqueio de valores e suspensão do direito de participar de licitações de investigados que incluem o deputado federal Antônio Leocádio dos Santos, conhecido como “Antônio Doido”, e o secretário de Obras Públicas do Estado, Benedito Ruy Santos Cabral. A investigação teve início após a prisão em flagrante de três pessoas que sacaram quase R$ 5 milhões em espécie em uma agência bancária de Castanhal, em outubro de 2024.

De acordo com a Polícia Federal, o esquema teria movimentado mais de R$ 48 milhões em saques suspeitos entre março de 2023 e outubro de 2024, com indícios de desvio de recursos públicos, fraude em licitações e uso de dinheiro para compra de votos. As investigações apontam ainda para o envolvimento de policiais militares que teriam sido recrutados para atuar em interesses escusos durante o período eleitoral de 2024.

Prisão em flagrante deflagra investigação complexa

A operação começou após a prisão, em 4 de outubro de 2024, de Francisco de Assis Galhardo do Vale, tenente-coronel da Polícia Militar, Geremias Cardoso da Hungria e Ellis Dangeles Noronha Martins. Os três foram detidos logo após sacarem R$ 5 milhões em espécie na agência do Banco do Brasil em Castanhal. A análise dos celulares apreendidos revelou conversas que conectam os detidos ao deputado federal Antônio Leocádio e sua esposa, Andrea Costa Dantas, responsável legal por empresas envolvidas no esquema.

Mensagens encontradas no telefone de Galhardo mostram que Antônio Leocádio acompanhava a operação de saque em tempo real, chegando a determinar o valor de R$ 380 mil que deveria ser entregue a Geremias Hungria. Os diálogos também revelam que o parlamentar utilizava mensagens temporárias do WhatsApp, o que dificultou a recuperação de conversas mais antigas. Apenas as mensagens do dia da prisão puderam ser analisadas integralmente.

Rede de empresas e contratos milionários com o governo estadual

As investigações identificaram que o grupo utilizava diversas empresas para movimentar recursos de origem suspeita. A principal delas é a J.A. Construcons Civil Ltda., de responsabilidade de Andrea Costa Dantas, que entre março de 2020 e abril de 2024 foi beneficiária de cerca de 375 empenhos do governo do Pará, totalizando pagamentos de R$ 633 milhões. A maior parte desses valores veio da Secretaria de Obras Públicas (SEOP), pasta comandada por Benedito Ruy Santos Cabral, também alvo da operação.

Segundo a Polícia Federal, Francisco Galhardo teria se encontrado de forma oculta com o secretário Ruy Cabral no interior de um veículo, um dia após a J.A. Construcons vencer uma licitação de R$ 148 milhões para obras da Perna Norte da Rua da Marinha, em Belém. A data coincide com um saque de R$ 6 milhões realizado por Galhardo. Mensagens sugerem a entrega de valores ilícitos ao secretário. A licitação foi posteriormente revogada pela Comissão de Licitação em janeiro de 2025, sob alegação de inconsistências no planejamento.

Técnicas de lavagem de dinheiro e fracionamento de valores

A investigação revelou sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, com transferências entre empresas do grupo e casas lotéricas, onde os valores eram sacados em espécie. Conversas entre Francisco Galhardo e sua esposa, Soraia de Nazaré Oliveira do Vale, mostram que ela operava contas bancárias das empresas, transferindo recursos fracionados para evitar a identificação de operações suspeitas pelas instituições financeiras.

Segundo a PF, o casal utilizou a técnica conhecida como “smurfing”, dividindo valores em frações menores de R$ 50 mil para dificultar o rastreamento. Análises do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) apontam que Francisco e Soraia sacaram cerca de R$ 2 milhões em operações suspeitas, sendo mais de R$ 1 milhão apenas em 2024. As empresas LUVIC e VL Engenharia, das quais o casal já foi sócio, também foram utilizadas no esquema de movimentação financeira.

A investigação também revelou o suposto recrutamento de policiais militares para atuar em campanhas eleitorais. Mensagens mostram que Francisco Galhardo coordenava um grupo de pelo menos 20 policiais que atuariam no município de Ourém, onde Amilton Leocádio dos Santos, irmão de Antônio Doido, concorria à prefeitura.

Saques milionários antes do primeiro turno das eleições

A Polícia Federal identificou um padrão de saques volumosos em datas próximas ao primeiro turno das eleições municipais de 2024. Nas semanas que antecederam o pleito, foram retirados R$ 22 milhões em espécie das contas das empresas ligadas ao grupo. Além dos R$ 5 milhões apreendidos em 4 de outubro, outros R$ 5 milhões haviam sido sacados três dias antes, em 1º de outubro. Em 20 e 26 de setembro, foram retirados mais R$ 12 milhões.

As investigações sugerem que parte desses valores teria sido destinada à compra de votos. Uma conversa entre Francisco Galhardo e Neto Leocádio, em 1º de agosto de 2024, menciona a entrega de uma “encomenda” no dia seguinte a um saque de R$ 1 milhão. Soraia de Nazaré também fez referências em mensagens sobre colocar “o Neto na berlinda” e pediu R$ 80 mil para carreata e reunião, valores que foram prontamente transferidos.

Decisão judicial e próximos passos

O ministro Flávio Dino autorizou busca e apreensão em todos os imóveis dos investigados, incluindo o deputado Antônio Leocádio, sua esposa Andrea Dantas, o coronel Francisco Galhardo, o secretário Benedito Ruy Cabral e outras 20 pessoas físicas e jurídicas. A operação prevê ainda o bloqueio de R$ 17,02 milhões em contas bancárias, a indisponibilidade de imóveis e veículos, e a apreensão de criptoativos.

Foi determinada também a suspensão do direito de participar de licitações e firmar contratos com órgãos públicos para os investigados e as empresas envolvidas. O ministro indeferiu, no entanto, o pedido de busca no gabinete do deputado na Câmara dos Deputados, em Brasília, por não haver demonstração específica da utilidade da medida. O afastamento do secretário Benedito Ruy Cabral também foi negado neste momento, mas poderá ser reavaliado após a análise de novos elementos probatórios.

A Polícia Federal tem 45 dias para executar todas as medidas autorizadas. O inquérito conta ainda com o compartilhamento de informações com a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU), que poderão auxiliar nas diligências. A decisão judicial foi mantida em sigilo até a execução das medidas ostensivas, sendo divulgada posteriormente.

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