Deputado do PSOL diz que processo de cassação tem motivação política e é tentativa da extrema-direita de silenciar mandatos combativos
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) usou a tribuna da Câmara dos Deputados na noite desta terça-feira (10) para fazer um discurso veemente em defesa de seu mandato. Alvo de processo de cassação após agredir fisicamente um militante do MBL, Glauber alegou que a ação foi motivada por ataques repetidos contra sua família e classificou o processo como uma tentativa da extrema-direita de silenciar vozes dissidentes no Parlamento.
A votação que poderia encerrar seu mandato, está prevista para ocorrer ainda nesta noite. Glauber, no entanto, afirmou que a cassação não se dará por um chute, mas por sua atuação política independente e sua denúncia constante de esquemas como o orçamento secreto.
Defesa da honra e da coerência
Glauber iniciou seu discurso dizendo que não se arrepende do ato, classificado por ele como defesa da honra da mãe, já idosa e doente. “Para defender a minha família, um chute na bunda, eu confesso a vocês, é nada”, afirmou, emocionado.
Segundo ele, o provocador do MBL já o havia abordado agressivamente por sete vezes em espaços públicos. Na quinta ocasião, teria proferido ofensas graves à sua mãe. “Ele não sabia o que estava dizendo. Não está mais na minha cabeça, nem carrego mágoa”, afirmou o deputado, ao garantir que não pedirá desculpas por defender sua família.
Processo político, não disciplinar
Na avaliação de Glauber, o pedido de cassação foi parte de um movimento político, liderado por setores da extrema-direita, que buscam enfraquecer mandatos combativos. Ele apontou diretamente para o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, como articulador da ofensiva.
“Todo mundo aqui sabe, convenhamos, essa tentativa de cassação não tem absolutamente nada a ver com o chute na bunda”, declarou. Glauber também criticou a decisão do atual presidente da Casa, deputado Hugo Motta, de pautar a votação no mesmo dia da sessão de cassação da deputada Carla Zambelli, tentando, segundo ele, criar uma falsa simetria entre os casos.
Tribuna popular e trajetória limpa
Em seu discurso, o parlamentar ressaltou que não houve nenhuma denúncia de corrupção contra ele desde que assumiu o mandato em 2009. “Sou retirado à força do mandato sem ter cometido crime?”, questionou. Glauber lamentou ainda que o relator do caso não tenha feito uma única pergunta a ele no Conselho de Ética, o que, em sua opinião, demonstra a fragilidade do processo.
Ele também reiterou sua posição como militante socialista e defensor de pautas populares, citando a luta contra a pejotização, pela soberania nacional e em defesa da classe trabalhadora. “Estou deputado. Sou militante socialista e serei por toda a minha vida. E isso não se negocia.”
Recado ao filho e à militância
Ao final da fala, Glauber se dirigiu ao filho de quatro anos, dizendo que ele ainda não compreende o que está acontecendo, mas que no futuro entenderá que não há motivo para se envergonhar do pai. “A vida não se resume a festivais, mas o ferimento a liberdades democráticas. E calar o mandato de quem não se corrompeu é sim uma violência.”
O deputado também agradeceu o apoio de colegas, da militância e de movimentos sociais que o acompanharam ao longo da jornada. Em especial, emocionou-se ao relatar uma conversa com a deputada Luiza Erundina, de quem ouviu: “Você é o filho que eu não tive”.



