A diplomacia do governo Donald Trump disse expressamente a representantes empresariais brasileiros que o tarifaço de 50% contra o Brasil depende de soluções para “impasses políticos” entre os países. O recado foi dado pelo secretário de Estado adjunto Christopher Landau a uma comitiva da Confederação Nacional da Indústria e da Câmara Americana de Comércio para o Brasil durante reunião em Washington nesta quarta-feira. A declaração reforça a interpretação do Palácio do Planalto sobre a carta de Trump cobrando fim do processo contra Jair Bolsonaro e queixas sobre ações judiciais contra plataformas digitais americanas.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, relatou que Landau foi “honesto” e “pragmático” ao deixar claro que a questão comercial tem fundo político. “Ele colocou que o assunto passa por soluções políticas”, declarou Alban após o encontro.
Landau também mencionou questões das big techs americanas, cuja atuação o governo Lula pretende regular e tributar. O diplomata afirmou que a comitiva brasileira “deveria fazer lobby no Brasil” contra a “censura” a empresas digitais americanas.
CNI propõe mesa de negociação comercial
O presidente da CNI disse que propôs uma mesa de negociação sobre temas de interesse comum, incluindo minerais críticos, data centers e combustível sustentável de aviação a partir de etanol. Alban reforçou que pretende atuar dentro dos limites de competência do setor produtivo.
Após a reunião, o dirigente empresarial defendeu que o Congresso Nacional encontre uma solução internamente. Questionado sobre anistia ao ex-presidente, respondeu: “Pode ser. O Legislativo vai encontrar a solução. Muitas tensões podem ficar amenizadas, não é verdade?”
Alban fez referência a experiências passadas de anistia no país, mas ponderou que não se pode “falar de anistia sem ter o julgamento”. O empresário disse ter feito telefonemas após a conversa para buscar contato com o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Departamento de Estado é único canal autorizado
Landau frisou que apenas o Departamento de Estado tem autorização da Casa Branca para discutir a questão brasileira. A informação indica que o governo Lula estaria “batendo na porta errada” ao tentar abrir outros canais de negociação.
“O próprio secretário Landau nos falou: ‘Vocês são os primeiros que estão vindo aqui conversar sobre essa relação Brasil-Estados Unidos. Porque nós somos os responsáveis por essa negociação, mas nenhum outro setor do governo'”, relatou Alban.
O governo brasileiro havia apostado em outros canais como o Departamento de Comércio, o Tesouro e o Escritório do Representante Comercial. A orientação de Landau sugere concentração das negociações no Departamento de Estado.
Questões judiciais estão no centro da tensão
O governo Trump se insurgiu contra decisões judiciais do Supremo que atingiram negócios de empresas americanas. O ministro Alexandre de Moraes foi punido pela Lei Magnitsky e processado na Flórida por empresas como Rumble e Trump Media.
“Em nenhum momento o secretário Landau falou de nomes da política partidária. Ele falou do aspecto político com relação às relações comerciais, às relações das empresas americanas, de censuras e tudo mais”, explicou Alban.
O governo brasileiro já afirmou que não aceitará colocar concessões institucionais na mesa de negociações. A posição oficial é que temas políticos como o processo judicial contra Bolsonaro não são negociáveis e pertencem ao Poder Judiciário.
Missão empresarial busca outros canais
A delegação de cerca de 130 empresários e dirigentes também foi ao Capitólio para reuniões com senadores republicanos Ted Cruz e Robert Kennedy, além do congressista Buddy Carter. A CNI contratou o advogado Brian Ballard, ligado a Trump, para lobby em Washington.
A missão empresarial tem expectativa de realizar reuniões com o Departamento de Comércio e o Tesouro americano nesta quinta-feira. Até agora, autoridades americanas não revelaram detalhes sobre novas sanções contra bancos ou membros do Executivo e Supremo brasileiro.
Landau é o segundo na hierarquia da diplomacia americana, abaixo apenas do secretário Marco Rubio. O chanceler brasileiro Mauro Vieira encontrou-se apenas uma vez com Rubio em julho, expressando que o governo considera “inaceitável e descabida a ingerência na soberania nacional”.