Com tornozeleira eletrônica, réu Filipe Martins acompanha julgamento do Núcleo 2 no STF marcado por confronto entre defesa e ministros

Há 20 minutos
Atualizado terça-feira, 9 de dezembro de 2025


Da Redação

O julgamento iniciado nesta terça-feira (09/12), pela primeira Turma Supremo Tribunal Federal (STF), do chamado núcleo 2 da trama golpista, conta com a presença inusitada de dois dos réus, que estão participando presencialmente da sessão e já teve momentos tensos entre ministros e advogados. Em relação aos réus, o que mais chama a atenção desde o momento em que chegou,  é o ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins.

Ele cumpre medidas cautelares, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica, mas pediu e recebeu autorização judicial para estar no STF neste dia. Martins foi autorizado pelo relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, a viajar a Brasília, onde permanece até esta quarta-feira (10/12). Veio de Ponta Grossa (PR), onde reside.

A outra ré que se destaca é a ex-subsecretária de Segurança Pública do Distrito Federal, Marília Ferreira Alencar, que está ao lado dos seus advogados de defesa. Os outros quatro réus que compõem o núcleo não estão presentes no Tribunal. Eles são acusados de coordenar ações estratégicas para tentar impedir a mudança de governo de Jair Bolsonaro para Lula em 2023, tais como o bloqueio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições e a elaboração da chamada “minuta do golpe”.

Momento de tensão

Com pouco mais de duas horas de iniciado o julgamento já teve um momento de tensão. Foi quando o advogado de defesa de Filipe Martins, Jeffrey Chiquini, tentou exibir slides durante a sua sustentação oral. O ministro Alexandre de Moraes negou o pedido, afirmando que o material não havia sido juntado previamente aos autos, o que impediria sua apresentação naquele estágio processual.

A negativa gerou discussão imediata. O advogado insistiu na palavra enquanto o ministro Flávio Dino, que preside a Turma, negou a questão de ordem. A troca de falas elevou o clima no plenário e Dino pediu a intervenção de agentes da Polícia Federal para retirar o advogado da tribuna e dar continuidade à sessão.

Demais integrantes

Integram o grupo do Núcleo 2, além de Martins e Marília os seguines réus: Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF; Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor de Jair Bolsonaro; Fernando de Sousa Oliveira, delegado da Polícia Federal e ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e Mário Fernandes, general da reserva e ex-secretário-geral da Presidência, que teria planejado o assassinato de autoridades e possuía uma minuta golpista.

Na prática, a Procuradoria Geral da República (PGR) acusa o Núcleo 2 de cinco crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas somadas para cada crimes variam significativamente, podendo levar a anos de reclusão.

Acesso privilegiado

A denúncia da PGR sustenta que Bolsonaro liderou uma organização criminosa baseada em um “projeto autoritário de poder” e enraizada na estrutura do Estado, com influência de “setores militares”. E este núcleo, conforme denúncia, é formado por pessoas com acesso privilegiado, teria propagado notícias falsas sobre o processo eleitoral, atacado instituições e realizado ações para gerar instabilidade.

A sessão desta terça-feira já contou com a leitura do relatório (resumo dos fatos) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e sustentação oral do Procurador-geral da República, Paulo Gonet. Em seguida, as defesas terão espaço para se manifestar em até uma hora cada uma. A leitura dos votos pelos ministros deve começar somente após essa etapa, com a previsão de que o julgamento seja concluído na próxima semana.

Material audiovisual

O problema que aconteceu com o advogado de Filipe Martins se deu porque ele não fez o pedido prévio para apresentação dos slides. Já as defesas de Marcelo Câmara, Fernando de Sousa Oliveira, Mário Fernandes e Marília Ferreira de Alencar solicitaram — e obtiveram — autorização para utilizar material audiovisual durante suas apresentações. 

De acordo com a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o réu Filipe Martins atuou como um dos articuladores para elaboração da minuta do golpe, documento no qual Bolsonaro pretendia justificar a decretação de um estado de sítio na região do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou uma operação de Garantia da Lei e de Ordem (GLO) pelas Forças Armadas.

Punhal Verde Amarelo

Para a PGR, o general Mario Fernandes foi o responsável pela elaboração do plano Punhal Verde Amarelo, no qual foi planejada a morte do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin.

O coronel do Exército Marcelo Câmara teria sido responsável pelo monitoramento ilegal da rotina de Moraes. A acusação ainda apontou Silvinei Vasques como responsável pelas ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar a circulação de eleitores do Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022.

Produção de dados

Também consta no parecer da PGR a acusação de que os dados que basearam as operações foram produzidos a mando de Marília de Alencar e Fernando de Sousa Oliveira. Ambos trabalhavam no Ministério da Justiça. Todos os acusados negaram envolvimento com a trama durante a tramitação da ação penal.

Até o momento, o STF já condenou 24 réus pela trama golpista. Os condenados fazem parte dos Núcleos 1, 3 e 4. O Núcleo 5 é formado pelo réu Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente da ditadura João Figueiredo. Ele mora dos Estados Unidos, e não há previsão para o julgamento.

— Com agências de notícias

Autor

Leia mais

A foto mostra o ministro do STF, Flávio Dino. Ele é um homem branco com cabelos grisalhos e usa óculos e toga.

Dino determina encaminhamento à PF de relatório da CGU que aponta irregularidades em emendas Pix

Há 46 minutos

CSN deve entregar documentos da ditadura militar ao Arquivo Nacional

Há 48 minutos

Dois coronéis da aeronáutica perdem patentes após desvio de R$ 2 milhões

Há 1 hora

Ibama é condenado a indenizar pela morte de 1.480 tartarugas da Amazônia

Há 1 hora

Justiça confirma devolução de obra de Aleijadinho a museu em Minas Gerais

Há 2 horas
A imagem mostra túmulos com cruzes em cemitérios de São Paulo.

Restos mortais perdidos em cemitério de SP gera indenização para família

Há 2 horas
Maximum file size: 500 MB