Em seu primeiro discurso como presidente eleito do Chile, José Antonio Kast (Partido Republicano), de direita ultraconservadora, adotou um tom conciliador ao pedir apoio de todos os setores políticos, incluindo a oposição, no combate ao crime organizado. Ele venceu o segundo turno neste domingo (14), com mais de 58% dos votos, segundo o Serviço Eleitoral chileno (Servel).
Em sua terceira tentativa de chegar ao cargo mais alto do país, Kast derrotou a candidata de esquerda Jeannette Jara, ex-ministra do Trabalho no governo do presidente Gabriel Boric. Após agradecer aos eleitores, à equipe de campanha e à família, Kast destacou que a vitória representa o início de um novo desafio. “Ajudem-me, todos, para que nestes quatro anos consigamos fazer o bem”, declarou.
Apelo por unidade política
Kast enfatizou a necessidade de colaboração, mesmo entre adversários. “Um governo tem partidários e tem oposição. Isso é normal. É legítimo. Claramente, com Jeannette Jara, temos profundas diferenças”, disse. Ao ouvir vaias da plateia, pediu respeito à rival. “Respeito e silêncio vão marcar nossa gestão de governo.”
O presidente eleito ainda compartilhou um diálogo com um de seus filhos, que lhe perguntou se o mundo seria melhor se todos fossem de direita. “Não necessariamente”, respondeu Kast. Para ele, problemas como o crime organizado exigem esforços conjuntos: “Se vamos combater o crime organizado, precisamos de vocês também. Serei o presidente de todos os chilenos.”
Promessa de endurecer leis contra o crime
Segurança pública foi o principal tema da campanha de Kast, em um cenário de crescente preocupação com a criminalidade no país. Apesar de o Chile ainda estar entre os países mais seguros da América Latina, uma pesquisa do instituto Ipsos mostra que 63% da população apontam a violência como o principal problema nacional.
Os homicídios aumentaram 140% na última década, e os sequestros chegaram a 868 casos em 2024 — alta de 76% em relação a 2021. Kast prometeu endurecer leis penais e afirmou que a “vida vai mudar” para os criminosos. “Para esses delinquentes, a vida vai mudar”, prometeu.
Transição e acordos no Congresso
Ao falar sobre governabilidade, Kast rejeitou a ideia de que o Estado seja um “espólio político” e prometeu construir uma gestão de unidade. “Queremos impulsionar um acordo nacional. Embora digam que não somos bons para acordos, vamos surpreendê-los”, afirmou.
A fala indica que o novo governo buscará alianças no Parlamento, que continua fragmentado. A direita, embora fortalecida, não possui maioria absoluta. Kast, que representa uma direita mais radical que os tradicionais partidos conservadores, terá o desafio de formar pontes tanto com o centro quanto com a oposição.
Eleição marcada por alternância histórica
Desde 2010, Chile tem se caracterizado por alternância entre direita e esquerda no Executivo. O atual presidente, Gabriel Boric, representa uma coalizão de centro-esquerda. Jeannette Jara, sua aliada, venceu o primeiro turno, mas foi superada na etapa final pela união da direita em torno das propostas de segurança e combate à imigração irregular.
A vitória de Kast é simbólica por vários motivos. Representa o retorno da direita ao poder após quatro anos e marca o fortalecimento de uma nova direita mais ideológica e nacionalista. O presidente eleito buscará responder à crescente demanda por segurança sem comprometer os valores democráticos, prometendo governar com firmeza, mas também com diálogo.



