Corpos de vítimas da PM do Rio de Janeiro são enfileirados a céu aberto por populares

Megaoperação no Rio deixa 119 mortos e expõe racha entre governos estadual e federal

Há 13 minutos
Atualizado quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro deixou oficialmente 119 mortos, segundo informações divulgadas nesta quarta-feira (29) pelo secretário de Polícia Civil do Estado, delegado Felipe Curi. A ação ocorreu na terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, na zona Norte da capital fluminense.

Com participação de 2.500 agentes de segurança, a Operação Contenção tinha como objetivo prender lideranças criminosas e conter a expansão territorial do Comando Vermelho. A ação foi duramente criticada por moradores, que transportaram dezenas de corpos para uma praça, e também gerou reações divergentes entre os governos estadual e federal.

Moradores relatam mais mortos do que os registros oficiais

Enquanto a polícia contabilizou 58 mortes ontem e mais 61 nesta manhã, moradores afirmam que o número pode passar de 130. Segundo relatos ao portal G1, pelo menos 74 corpos foram levados à Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, por moradores do Complexo da Penha. As vítimas seriam todas homens, muitos com marcas de tiros na cabeça, segundo apuração da TV Globo.

Ainda de acordo com o “Bom Dia Rio”, os corpos estavam na mata próxima ao complexo e foram retirados por familiares durante a madrugada e início da manhã. O Instituto Médico Legal (IML) ainda aguarda a chegada de todos os corpos para a identificação formal, o que pode alterar o número final de vítimas.

Governo do Rio classifica ação como “sucesso”

O governador Cláudio Castro (PL) defendeu a operação e afirmou que as únicas vítimas foram os quatro policiais mortos em combate. “De vítima ontem lá, só tivemos esses policiais”, declarou. Ele também minimizou a possibilidade de mortes de inocentes, considerando eventuais erros como “residuais e irrisórios”.

Segundo o delegado Felipe Curi, 113 pessoas foram presas, incluindo 33 vindas de outros estados. Foram apreendidos 91 fuzis, 26 pistolas, 14 artefatos explosivos e um revólver. Para Curi, a ação representou o maior golpe contra o Comando Vermelho já registrado.

Em contraponto à narrativa do governo estadual, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou a operação como “extremamente violenta” e questionou sua compatibilidade com o Estado Democrático de Direito. Após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro afirmou que Lula ficou “surpreso” com a magnitude da ação e “estarrecido” com o número de mortos.

Lewandowski anunciou que, por determinação do presidente, irá ao Rio de Janeiro com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para se reunir com Cláudio Castro. “Vamos intensificar o que for possível. Mas não há bala de prata para resolver a situação”, declarou.

Debate sobre GLO revela impasse institucional

A possibilidade de decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — instrumento constitucional que permite o uso das Forças Armadas em casos extremos — não foi discutida, segundo o ministro. Lewandowski afirmou que essa medida é “excepcionalíssima” e só pode ser tomada mediante provocação formal.

Castro, por sua vez, rejeitou críticas por não ter pedido GLO. Disse que o papel de um governador é solicitar ajuda, e não definir instrumentos legais. “Se o instrumento é GLO, esse é um problema do governo federal”, afirmou.

Comissão de Direitos Humanos acompanha caso

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (CDDHC) divulgou nota informando que está atuando in loco nas comunidades afetadas, em parceria com diversas instituições, para apurar os desdobramentos da operação.

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