Vídeos inéditos mostram maquinário militar operando no quartel-general em Brasília após a derrota de Bolsonaro; Exército alega “manutenção de área pública”
Militares do Exército Brasileiro realizaram obras de terraplenagem para facilitar a instalação do acampamento golpista montado em frente ao quartel-general em Brasília no fim de 2022, logo após a derrota do então presidente Jair Bolsonaro nas urnas. Os registros foram feitos por um integrante do acampamento e revelam uma atuação mais direta das Forças Armadas no apoio logístico aos manifestantes do que indicavam as investigações conduzidas até agora pela Polícia Federal.
Registros inéditos de apoio militar
Os vídeos, datados de 18 de novembro de 2022, mostram militares operando uma retroescavadeira e um caminhão para nivelar uma área tomada por lama, onde estavam instaladas diversas barracas com faixas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o processo eleitoral.
As imagens foram gravadas pelo jornalista Wellington Macedo, preso desde setembro de 2023, acusado de envolvimento em uma tentativa de atentado a bomba em Brasília. O material foi entregue ao Estadão por seu advogado, Sildilon do Nascimento, que nega o envolvimento de Macedo no caso e afirma que o jornalista não conhecia os autores da ação.
Segundo a defesa, os arquivos foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Polícia Federal no fim de 2023, como parte de uma tentativa de acordo de colaboração premiada. O pedido, contudo, foi rejeitado pela equipe do procurador-geral Paulo Gonet, e o material acabou devolvido.
Exército diz que obra foi “manutenção de área pública”
Questionado, o Exército confirmou o uso de maquinário no local, mas justificou que a operação se destinava à “manutenção de área sob jurisdição militar” e à correção de acúmulo de lama.
Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que o Setor Militar Urbano (SMU) “passa por manutenção regular” e que a intervenção visava garantir “condições adequadas” de uso da área.
O comunicado destacou ainda que o SMU é “um dos espaços públicos mais simbólicos da capital federal”, com valor “cívico, histórico e cultural”, e que o uso de maquinário de engenharia foi necessário diante do “desnível e acúmulo de lama”.
Contradições com investigações da PF
Os vídeos indicam que os militares tiveram participação mais ativa no acampamento do que se imaginava. A denúncia da PGR apresentada contra Bolsonaro e aliados afirma que o ex-presidente incentivou a permanência dos manifestantes para pressionar as instituições, mas não detalha o papel operacional dos militares na montagem do acampamento.
Até agora, as apurações mostravam apenas que uma carta assinada pelos comandantes das Forças Armadas, em 11 de novembro de 2022, foi interpretada como sinal de apoio aos protestos. No documento, os chefes militares afirmaram que as manifestações nas unidades não constituíam crime, o que, segundo a PF, encorajou a continuidade dos atos.
Defesa de jornalista tenta revogar prisão
Wellington Macedo foi condenado a seis anos de prisão pela 8ª Vara Criminal de Brasília por envolvimento na tentativa de atentado a bomba. Sua defesa alega que ele está preso “sem contemporaneidade dos fatos” e que não há provas de participação direta.
Os advogados sustentam que dois coacusados negaram conhecer Wellington e que um laudo da Polícia Civil apontou que o artefato “não tinha capacidade de explodir”. O pedido de revogação da prisão preventiva foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, mas a defesa recorreu à Primeira Turma do STF.
Papel dos comandantes e nota das Forças Armadas
Na época dos fatos, o comandante do Exército era o general Freire Gomes, que assinou a nota conjunta “Às instituições e ao povo brasileiro”. O texto afirmava que manifestações críticas “não constituem crime” e mencionava o direito à livre expressão.
Em depoimento ao STF, Freire Gomes admitiu ter sido consultado por Bolsonaro sobre uma minuta de decreto de teor golpista, mas disse ter rejeitado a proposta. A PGR considerou sua resistência “essencial para evitar a concretização do golpe”.
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