O Ministério Público Federal (MPF), a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) assinaram nesta sexta-feira (25) um acordo de cooperação técnica que estabelece a atuação conjunta das três instituições na negociação e no acompanhamento de acordos de leniência com empresas envolvidas em práticas ilícitas. Segundo a AGU, a iniciativa visa promover maior eficiência e segurança jurídica nas tratativas com as organizações que buscam regularizar sua situação perante o Estado brasileiro.
O documento foi oficializado em cerimônia que contou com a presença do procurador-geral da República, Paulo Gonet; do ministro da AGU, Jorge Messias; do ministro da CGU, Vinícius Marques de Carvalho, e do coordenador da Câmara de Combate à Corrupção do MPF, Alexandre Camanho. A parceria representa um avanço significativo na estratégia coordenada de combate à corrupção no país.
Objetivos da cooperação
A cooperação técnica entre as três instituições busca estabelecer um ambiente de segurança jurídica para as empresas interessadas em firmar acordos de leniência, evitando a duplicidade de sanções e possíveis divergências na interpretação dos termos pactuados. O acordo pretende fomentar a utilização desse instrumento legal, incentivando as empresas a colaborarem com as investigações.
Além de proporcionar maior celeridade, a atuação coordenada facilita o acesso das autoridades às provas necessárias para a responsabilização dos envolvidos em atos ilícitos. A medida também visa garantir a devolução mais rápida dos valores desviados aos cofres públicos, promovendo a reparação dos danos causados ao erário.
A iniciativa surge como resposta à necessidade de aperfeiçoamento dos mecanismos de combate à corrupção no Brasil, especialmente após as experiências acumuladas nos últimos anos com grandes investigações que revelaram esquemas complexos de corrupção envolvendo empresas e agentes públicos.
Funcionamento dos acordos de leniência
Os acordos de leniência funcionam como uma espécie de colaboração premiada para pessoas jurídicas. Por meio deles, as empresas se comprometem a colaborar efetivamente com as investigações, fornecendo documentos e informações que comprovem as irregularidades praticadas, além de se responsabilizarem pelo ressarcimento integral dos prejuízos causados ao poder público.
Como contrapartida à colaboração, as sanções que seriam aplicadas às empresas pelo cometimento das irregularidades são reduzidas, e os processos administrativos e judiciais relacionados aos fatos investigados podem ser suspensos, desde que as cláusulas do acordo sejam integralmente cumpridas. As empresas também se comprometem a implementar ou aprimorar seus programas de integridade, adotando medidas para garantir que suas atividades sejam conduzidas de forma ética e sustentável.
Este instrumento jurídico tem se mostrado fundamental para o desmantelamento de esquemas de corrupção e para a recuperação de ativos desviados dos cofres públicos, além de estimular uma mudança cultural nas empresas em favor da integridade e da transparência nas relações com o poder público.
Fluxo de trabalho estabelecido
O acordo de cooperação técnica define um fluxo de trabalho e de comunicação que será seguido sempre que uma empresa manifestar interesse em firmar um acordo de leniência junto ao MPF ou à CGU. Segundo o protocolo estabelecido, assim que uma das instituições for procurada por uma empresa interessada, as outras serão imediatamente informadas para que possam participar desde o início das negociações.
A atuação coordenada permitirá que as três instituições definam conjuntamente os valores a serem pactuados a título de multa e ressarcimento, as sanções aplicáveis e os benefícios oferecidos às empresas colaboradoras. Essa abordagem integrada visa eliminar inconsistências nas tratativas e garantir maior eficácia nos acordos firmados.
O acordo também estabelece mecanismos para facilitar a troca de informações entre as instituições e o compartilhamento de provas, assegurando sempre o sigilo dos dados e a proteção dos colaboradores. Esta medida é essencial para preservar a eficácia das investigações em curso e para garantir que as empresas continuem dispostas a colaborar com as autoridades.
Metodologias unificadas
Um dos pontos de destaque da parceria é o compromisso das três instituições em definir conjuntamente metodologias de cálculo dos valores de multa e de ressarcimento, tendo como base os danos efetivamente causados pelos atos ilícitos. Essa padronização tornará os acordos mais previsíveis e transparentes para as empresas interessadas em colaborar.
Além disso, o MPF, a AGU e a CGU estabelecerão em conjunto os parâmetros de avaliação e monitoramento dos programas de integridade que deverão ser implementados ou aperfeiçoados pelas empresas signatárias dos acordos de leniência. Esses programas são fundamentais para prevenir a reincidência em práticas ilícitas e para promover uma cultura organizacional baseada na ética e na conformidade com as leis.
O termo de cooperação terá vigência de cinco anos, podendo ser prorrogado conforme a necessidade e os resultados alcançados. Durante esse período, as instituições realizarão avaliações periódicas da eficácia da parceria e poderão propor ajustes para aprimorar os procedimentos adotados.
Impacto esperado
A expectativa das autoridades é que a atuação coordenada resulte no aumento do número de acordos de leniência firmados com empresas envolvidas em práticas ilícitas, ampliando a recuperação de recursos desviados dos cofres públicos e acelerando as investigações de esquemas de corrupção.
A iniciativa também deve contribuir para a consolidação de um ambiente de negócios mais ético e transparente no Brasil, incentivando as empresas a adotarem práticas de conformidade e a colaborarem com as autoridades quando identificarem irregularidades em suas operações ou no setor em que atuam.
Para o procurador-geral da República, Paulo Gonet, a parceria representa um avanço significativo na estratégia de combate à corrupção no país. “Essa cooperação técnica harmoniza a atuação das instituições e fortalece o sistema de controle, tornando mais eficiente a responsabilização por atos ilícitos e a recuperação de ativos”.
Histórico e perspectivas
O acordo de cooperação técnica se insere em uma trajetória de aperfeiçoamento dos mecanismos de combate à corrupção no Brasil. Nos últimos anos, os acordos de leniência firmados com diversas empresas resultaram na recuperação de bilhões de reais aos cofres públicos e na responsabilização de agentes públicos e privados envolvidos em esquemas de corrupção.
A expectativa é que, com a atuação coordenada das três instituições, esse instrumento se torne ainda mais eficaz e atraente para as empresas que desejam regularizar sua situação perante o Estado. A segurança jurídica proporcionada pelo acordo deve eliminar um dos principais obstáculos para a celebração de acordos de leniência: o receio das empresas de que, mesmo após firmarem um acordo com determinada instituição, possam ser alvo de novas sanções por parte de outros órgãos de controle.
Com vigência inicial de cinco anos, o acordo de cooperação técnica entre MPF, AGU e CGU representa um marco importante no aperfeiçoamento institucional brasileiro e sinaliza o compromisso das autoridades com a eficiência do sistema de justiça e com o combate à corrupção.