Da Redação
A maior operação policial dos últimos 15 anos no Rio de Janeiro resultou em 64 mortes, incluindo quatro policiais, e 81 prisões nos complexos do Alemão e da Penha nesta terça-feira (28). A Operação Contenção mobilizou mais de 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar com o objetivo de capturar lideranças do Comando Vermelho e conter a expansão territorial da facção criminosa. Até o momento, foram apreendidos 72 fuzis e grande quantidade de drogas ainda em contabilização, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
A ação, deflagrada após mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento, expôs um embate político entre o governador Cláudio Castro (PL) e o governo federal. Castro afirmou que o Estado agiu sozinho e criticou a negativa de apoio federal, acusando o presidente Lula de não colaborar com as forças estaduais. A declaração provocou resposta imediata do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que apresentou dados sobre a atuação federal no Rio de Janeiro e recursos disponibilizados ao Estado.
Estado acusa governo federal de omissão em megaoperação
O governador Cláudio Castro utilizou a coletiva de imprensa sobre a operação para criticar duramente a falta de apoio federal. Segundo ele, três pedidos de empréstimo de blindados foram negados pelo governo federal, que condicionava a ajuda à decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), medida à qual o presidente Lula se opõe. “Cada dia uma razão para não estar colaborando”.
Castro negou que suas declarações sejam motivadas por disputa política e classificou suas falas como um pedido de ajuda. “Estamos sozinhos nessa luta hoje. É uma operação maior que a de 2010 e, infelizmente, desta vez, como ao longo deste mandato inteiro, não temos o auxílio de blindados nem agentes das forças federais de segurança e defesa”, afirmou. Por conta das negativas anteriores, o governador afirmou que decidiu não solicitar forças federais para a Operação Contenção.
Apesar das críticas, Castro garantiu que a ação cumpre todas as determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da (ADPF) 635, incluindo o uso de câmeras operacionais corporais pelos agentes e a presença de ambulâncias na região. Centenas de mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça com base em inquéritos da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).
Ministério da Justiça contesta versão e apresenta números da atuação federal
Em resposta às declarações do governador, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou nota detalhando a cooperação com o Rio de Janeiro. Segundo o Ministério, a Força Nacional de Segurança Pública atua no Estado desde outubro de 2023, conforme portaria que mantém a operação vigente até dezembro de 2025, com possibilidade de renovação. Desde 2023, todas as 11 solicitações de renovação da Força Nacional no território fluminense foram acatadas prontamente.
A pasta apresentou dados da atuação federal no Estado. Apenas em 2025, a Polícia Federal realizou 178 operações no Rio de Janeiro, sendo 24 relacionadas ao tráfico de drogas e armas, resultando em 210 prisões, das quais 60 diretamente ligadas a investigações sobre narcotráfico e armas. No mesmo período, foram apreendidas 10 toneladas de drogas, 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis, e cerca de 600 peças e acessórios capazes de moldar aproximadamente 30 fuzis.
Entre 2024 e 2025, a Polícia Federal cumpriu 855 mandados de prisão no Rio de Janeiro. Entre as operações de destaque está a Forja, que desarticulou uma fábrica clandestina com capacidade de produzir 3.500 fuzis por ano destinados ao Comando Vermelho, e as operações Buzz Bomb e Libertatis, que prenderam operadores de drones das principais facções criminosas atuantes no estado.
PRF contabiliza mais de 3 mil veículos recuperados desde 2023
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também reforçou sua presença no Rio de Janeiro desde 2023, com operações focadas no combate a roubos de cargas e veículos nas rodovias federais. Entre janeiro de 2023 e outubro de 2025, foram recuperados 3.082 veículos, apreendidas 13.961 munições, 172 armas curtas e 72 fuzis, além de 8.250 pessoas detidas.
No período, a PRF também apreendeu 29,5 toneladas de maconha, 3,9 toneladas de cocaína e 73.990 unidades de drogas sintéticas. Valores de origem ilícita no montante de R$ 3,2 milhões foram confiscados. Os dados demonstram a intensidade da atuação federal nas rodovias que cortam o estado, consideradas rotas estratégicas para o tráfico de drogas e armas.
Rio possui mais de R$ 278 milhões em recursos federais não utilizados
Segundo o ministério da Justiça foram repassados ao Rio de Janeiro pelo Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) e permanecem sem utilização, mais de R$ 99 milhões entre 2016 e 2024, valor que com rendimentos superou R$ 143 milhões. Contudo, apenas cerca de R$ 39 milhões foram efetivamente aplicados, restando mais de R$ 104 milhões parados em conta.
O órgão diz que a situação se repete com os recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Desde 2019, o Rio de Janeiro recebeu quase R$ 288 milhões, montante que com rendimentos alcançou R$ 331 milhões. Desse total, pouco mais de R$ 157 milhões foram executados, deixando um saldo superior a R$ 174 milhões disponíveis e não utilizados pelo governo estadual.
Além dos recursos financeiros, segundo o governo federal, o estado recebeu doações de equipamentos como veículos, computadores, drones, coletes e munições, que somam aproximadamente R$ 10 milhões.
Comitês de inteligência fortalecem combate ao crime organizado
O Ministério da Justiça destacou ainda a criação de estruturas de cooperação técnica com o Rio de Janeiro. O Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA) tem como foco descapitalizar as organizações criminosas por meio de inteligência financeira e recuperação de ativos. Até setembro de 2025, o CIFRA analisou 59 Relatórios de Inteligência Financeira emitidos pelo COAF, envolvendo operações com mais de R$ 65 bilhões em valores suspeitos.
O Estado também foi integrado à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento das Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera).



