Da Redação
A Polícia Federal revelou nesta terça-feira (28) a existência de um grupo paramilitar de extrema-direita chamado “Caça aos Comunistas”, descoberto no âmbito da Operação Sesamnes, deflagrada em março de 2025 para investigar redes de desinformação e ameaças ao Estado Democrático de Direito. O grupo, segundo as autoridades, mantinha um plano detalhado para executar figuras públicas identificadas como de esquerda, incluindo parlamentares, juízes e professores universitários.
De acordo com a PF, os membros da organização planejavam atentados violentos e possuíam uma “lista de alvos”, com valores financeiros estipulados para cada execução. A descoberta foi possível após a quebra de sigilo de mensagens trocadas em grupos criptografados monitorados desde o início da operação Sesamnes.
Em coletiva de imprensa, o delegado responsável pelo caso, Luís Fernando Correia, afirmou que o grupo estava em “fase avançada de preparação” para cometer os primeiros assassinatos: “Identificamos valores que variavam entre R$ 50 mil e R$ 250 mil por alvo, dependendo do grau de notoriedade e influência da pessoa. As ações tinham motivação ideológica clara e visavam desestabilizar instituições democráticas.”
Arsenal e estrutura militarizada
Durante o cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão e 10 mandados de prisão em sete estados — incluindo São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e o Distrito Federal — a Polícia Federal apreendeu um arsenal considerável: fuzis, pistolas automáticas, explosivos artesanais, coletes balísticos e documentos com táticas de guerrilha urbana.
As investigações apontam que o grupo operava com uma estrutura hierárquica militarizada. Alguns dos presos são ex-militares ou seguranças privados com treinamento avançado. Em um sítio no interior de Goiás, a PF encontrou um campo de treinamento com alvos simulando políticos e professores, além de gravações de “execuções simuladas”.
Financiamento oculto e propaganda digital
Parte do financiamento do grupo vinha de campanhas de arrecadação camufladas como apoio a “patriotas presos” ou “defensores da liberdade”, realizadas por meio de plataformas digitais. As investigações também apontam para o envolvimento de empresários e ex-assessores parlamentares, que teriam contribuído com recursos e logística.
A PF investiga ainda a atuação de influenciadores digitais que disseminavam propaganda do grupo de forma velada, usando discursos contra o “marxismo cultural” e a “infiltração comunista” nas instituições. “Esses indivíduos preparavam o terreno ideológico para justificar ações terroristas”, explicou o delegado Correia.
Alvos incluíam ministros do STF e professores universitários
Entre os alvos listados pelo grupo estavam nomes de ministros do Supremo Tribunal Federal, deputados federais, reitores de universidades públicas e lideranças de movimentos sociais. O grau de detalhamento nos planos chamou a atenção da PF, que classificou o caso como uma das mais graves ameaças internas dos últimos anos.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, os envolvidos devem ser denunciados por crimes como formação de organização criminosa armada, incitação à prática de crime, porte ilegal de armamento de uso restrito, tentativa de atentado contra o Estado Democrático de Direito e planejamento de homicídio qualificado.
Reações e próximos passos
O Ministério da Justiça emitiu nota afirmando que “qualquer tentativa de instaurar o terror político no país será enfrentada com todo o rigor da lei”. Já o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Barros, declarou que “a Justiça não se intimidará diante de ameaças fascistas disfarçadas de patriotismo”.
A Polícia Federal seguirá com as investigações em sigilo, mas adiantou que novas fases da Operação Sesamnes estão previstas e que mais prisões poderão ocorrer. Parte do material apreendido está sendo analisada com apoio da ABIN e do Ministério Público Federal.
A descoberta reacende o alerta sobre o avanço de grupos extremistas armados no Brasil e o uso da violência como instrumento político, desafiando diretamente os pilares do Estado Democrático de Direito.