Por Carolina Villela
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão preventiva ocorreu após investigações apontarem que Bacellar vazou informações sigilosas da Operação Zargun, deflagrada em setembro, que resultou na prisão do então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias (MDB). Além da prisão, Moraes determinou o afastamento imediato de Bacellar do mandato parlamentar.
As investigações revelaram que, no dia 2 de setembro, véspera da Operação Zargun, Bacellar ligou para TH Joias alertando sobre os mandados de busca e apreensão que seriam cumpridos contra ele. O presidente da Alerj teria orientado o colega parlamentar a destruir provas, o que levou TH a organizar às pressas uma mudança, utilizando até um caminhão-baú para transportar objetos de interesse investigativo. O deputado é investigado no inquérito (INQ) 5020, desdobramento da petição (PET) 14969, que apura, no âmbito da ADPF das Favelas, a atuação de grupos criminosos no estado do Rio de Janeiro e suas conexões com agentes públicos.
Indícios de obstrução à Justiça e ligações com facção criminosa
Segundo a representação da Polícia Federal destacada pelo ministro Alexandre de Moraes, existem indícios graves que demonstram o vazamento de informações sensíveis mediante ações ativas e deliberadas com o objetivo de obstruir a justiça e ocultar provas. O ministro ressaltou em sua decisão que os fatos narrados pela corporação são gravíssimos, indicando que Rodrigo Bacellar estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado.
A gravidade da situação se torna ainda mais evidente quando se considera que Bacellar possui influência não apenas na Alerj, onde ocupa a Presidência, mas também no Poder Executivo estadual. Segundo a Procuradoria-Geral da República, o deputado gere a nomeação de cargos diversos na Administração Pública, inclusive em setores sensíveis à atuação de organizações criminosas, como a Polícia Militar e a Polícia Civil, potencializando o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações.
De acordo com a representação policial, Rodrigo da Silva Bacellar figura como o primeiro contato da lista de comunicação urgente enviada pelo próprio TH Joias, evidenciando a importância e a necessidade premente do investigado em se comunicar com o parlamentar. A Polícia Federal ressalta que TH iniciou contato com Bacellar chamando-o de “01” e informando que estava utilizando um novo número de telefone, ao que Bacellar respondeu com uma figurinha, sugerindo que já tinha conhecimento de que haveria a troca de linha.
Provas do vazamento e comunicação durante a operação
A atuação de Bacellar não se limitou à véspera da operação. Segundo as investigações, no próprio dia da ação policial, às 6h03 da manhã, TH Joias enviou para o presidente da Alerj uma foto de celular contendo imagens do sistema de segurança de seu imóvel, mostrando a equipe da Polícia Federal já no interior da residência durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão. Na mesma mensagem, TH compartilhou com Bacellar o telefone de sua advogada, demonstrando a confiança e a proximidade entre os dois parlamentares.
A Procuradoria-Geral da República destacou em seu parecer que Bacellar tinha pleno conhecimento das relações de TH Joias com o Comando Vermelho. O deputado preso em setembro havia sido encarcerado por dez meses entre 2017 e 2018 e posteriormente condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a quase quinze anos de reclusão por tráfico de drogas. Mesmo ciente desse histórico criminal, Bacellar, segundo a PGR, manteve contato próximo com TH e o alertou sobre a operação policial.
A suspeita de vazamento havia sido levantada já no próprio dia da Operação Zargun pelo procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira. Ele afirmou na ocasião que houve certa dificuldade para localizar TH Joias, pois o parlamentar havia saído de seu condomínio por volta das 21h40 da terça-feira, 2 de setembro, véspera da operação, deixando a casa completamente desarrumada, o que sugeria uma fuga e o desfazimento de vestígios de fatos criminosos.
Além da prisão de Rodrigo Bacellar, o ministro Alexandre de Moraes expediu oito mandados de busca e apreensão, sendo um deles no gabinete do deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Houve ainda outro mandado de intimação para cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão.
A prisão de TH Joias e o esquema de corrupção
Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi preso em 3 de setembro por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, suspeito de negociar armas e acessórios para o Comando Vermelho. O deputado era segundo suplente e assumiu o cargo em junho do ano passado, após a morte de Otoni de Paula Pai e a recusa de Rafael Picciani em herdar a cadeira na Alerj, já que Picciani havia saído para compor o secretariado do governador Cláudio Castro (PL).
TH Joias perdeu o mandato quando Picciani retomou a vaga na Assembleia, depois que o governador Castro o exonerou da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer e o mandou de volta à Alerj. Segundo a PF, o deputado tinha relação próxima com chefes do Comando Vermelho e por conta de sua relação íntima com traficantes se aproveitou das prerrogativas do mandato parlamentar para promover “o branqueamento do proveito ilícito dos crimes praticados pela cúpula da facção,
intermediava a aquisição de armas e equipamentos tecnológicos voltados à frustração das ações policiais contra a malta, e se encontrava pessoalmente com a cúpula da facção para alinhamento”
O deputado já foi alvo de duas operações simultâneas: a operação Zargun, conduzida pela Polícia Federal, que cumpriu mandados expedidos pelo Tribunal Regional Federal, enquanto a Operação Bandeirante, do Ministério Público estadual, executou ordens do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. As duas ações revelaram um complexo esquema de corrupção envolvendo lideranças da facção no Complexo do Alemão e diversos agentes públicos.



