Ministro Mauro Vieira classifica reunião com Marco Rubio como ‘produtiva e cordial’; foco foi a reversão das sobretaxas sobre produtos brasileiros
A reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, marcou ontem (16/10) o início das negociações para tentar reverter as sanções comerciais impostas por Washington aos produtos brasileiros. Realizado em Washington, o encontro foi classificado pelo chanceler brasileiro como “produtivo e cordial” e abre caminho para um possível encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.
O comunicado conjunto emitido após a reunião reforçou a intenção mútua de avançar no diálogo diplomático e comercial. Entre os objetivos imediatos está a organização de uma reunião presidencial, embora ainda sem data definida.
Agenda econômica e primeiros passos
O foco da reunião esteve centrado nas sanções comerciais americanas. Desde agosto, um tarifaço de 50% incide sobre produtos brasileiros, somando-se a uma medida anterior de 10% adotada em abril. O Brasil considera essas sobretaxas injustas e tem reiterado a necessidade de reversão imediata.
Vieira declarou, na embaixada brasileira em Washington, que a posição do Brasil foi reiterada de forma clara. “Reiterei a posição brasileira, transmitida diretamente pelo presidente Lula ao presidente Trump, na semana passada, sobre a necessidade de reversão das medidas adotadas pelo governo americano”, afirmou.
Reunião reservada e ambiente diplomático
O encontro teve duração total de uma hora. Nos primeiros 20 minutos, Vieira e Rubio conversaram a portas fechadas, sem a presença de assessores. A segunda parte, com duração de 40 minutos, contou com a presença de representantes diplomáticos e comerciais dos dois países.
Estavam presentes, do lado brasileiro, a embaixadora Maria Luiza Viotti e os embaixadores Mauricio Carvalho Lyrio, Philip Fox-Drummond Gough e Joel Sampaio. Representando os EUA, participaram o embaixador Jamieson Greer, o secretário de Defesa Assistente Michael Jensen e outros assessores do Departamento de Estado.
Expectativas de aproximação presidencial
Embora a data do encontro entre Lula e Trump não esteja definida, a expectativa dos diplomatas é de que a reunião ocorra o mais rapidamente possível. Questionado se isso poderia acontecer durante a cúpula da ASEAN, ainda neste mês, Vieira afirmou que o momento e o local ainda serão definidos conforme as agendas dos presidentes.
“O objetivo permanece: que os presidentes Lula e Trump se reúnam em breve”, disse.
A nota oficial divulgada após o encontro sintetiza esse clima de cooperação: “Rubio, Greer e Vieira concordaram em conduzir discussões em várias frentes e estabelecer uma rota de trabalho conjunto”.
Bastidores e temas paralelos
Embora questões políticas internas, como o caso Bolsonaro e as decisões do STF, tenham sido deixadas de fora da pauta oficial, o contexto político segue influenciando as negociações. Até recentemente, Trump condicionava o diálogo à suspensão do processo judicial contra Bolsonaro. No entanto, segundo fontes diplomáticas, esse tom foi suavizado.
Rubio, conhecido crítico do Judiciário brasileiro, não mencionou o tema durante a reunião com Vieira, repetindo o comportamento de Trump em recente conversa telefônica com Lula.
Etanol e minerais estratégicos em foco
Na área comercial, o etanol anidro desponta como ponto de possível acordo. Os EUA reivindicam a redução da tarifa de 18% imposta pelo Brasil à importação do produto, enquanto mantêm uma taxa de apenas 2,5% sobre o etanol brasileiro. O diálogo sobre a pauta é considerado promissor.
Outros temas incluem a negociação de fornecimento de minerais estratégicos como nióbio, lítio e terras-raras, usados na transição energética. O Brasil é considerado um fornecedor-chave e os EUA buscam garantir acesso preferencial.


