Ator baiano e O Agente Secreto estão em alta nas cotações para a temporada de premiações, inclusive para o Oscar 2026. Wagner e o filme fazem história com 3 indicações ao Globo de Ouro. Como no ano passado, podemos saborear o momento em que o talento brasileiro encontra o reconhecimento de Hollywood.
Wagner Moura e O Agente Secreto têm chances de indicações para o Oscar 2026
Por Jeffis Carvalho
Há algo de profundamente universal em histórias sobre identidade, resistência e sobrevivência sob regimes autoritários. São narrativas que transcendem fronteiras porque tocam em medos e esperanças compartilhados pela humanidade: o medo de ser apagado, perseguido, esquecido; e a esperança de resistir, de manter-se vivo, de preservar quem se é mesmo quando forças externas conspiram para destruir isso.
É exatamente essa universalidade que dá força a O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, na sua corrida às grandes premiações americanas. E é o que coloca Wagner Moura em uma posição privilegiada na disputa pelo Oscar 2026 de Melhor Ator.
A força de uma atuação contida
O filme ambienta-se no Recife de 1977, durante a ditadura militar brasileira, e acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário que, procurado por atividades subversivas, busca refúgio na capital pernambucana enquanto tenta proteger seu filho pequeno e, eventualmente, fugir do país. O que poderia ser apenas uma história brasileira sobre um período sombrio de nossa história transforma-se, com roteiro e direção de Kleber, e com a atuação de Moura, em algo mais universal: um estudo sobre paranoia, memória, identidade e o sufocamento que regimes autoritários impõem não apenas aos corpos, mas às almas.
Wagner Moura nos entrega uma performance contida, comedida – e seus olhos carregam todo o peso de um homem que precisa se reinventar para sobreviver. Não há histrionismo, não há denuncismo fácil, não há o tom panfletário. Por isso a atuação se torna ainda mais contundente. Como observou o The New York Times, que colocou Moura entre as 10 melhores atuações do ano: “Tudo o que Moura faz é receber informações. Mas observá-lo absorver e processar essas informações é o mais próximo que a atuação chega de uma arte em time-lapse”.
Esse tratamento universalista da experiência humana sob autoritarismo é o que emociona plateias em todo o mundo. E é o que pode emocionar os votantes do Oscar.
O verdadeiro termômetro do Oscar
A indicação ao Globo de Ouro 2026, anunciada em 8 de dezembro, foi histórica: Wagner Moura tornou-se o primeiro homem brasileiro a concorrer na categoria de Melhor Ator em Filme Dramático. O Agente Secreto também disputa Melhor Filme Dramático e Melhor Filme em Língua Não-Inglesa – três indicações que representam um recorde para uma produção brasileira.
Mas é preciso ressaltar: as indicações do Globo de Ouro não aumentam – e eventuais derrotas não diminuem – as chances reais de premiação pela Academia. Há muito tempo o Globo de Ouro deixou de ser um termômetro confiável para o Oscar. Trata-se de um grupo relativamente pequeno de jornalistas que pouco podem influenciar os humores da Academia.
O verdadeiro termômetro do Oscar está nas premiações dos sindicatos que representam a comunidade cinematográfica americana. Afinal, a Academia não deixa de ser, por sua representatividade, uma espécie de “federação sindical” – seus membros são os mesmos que compõem essas organizações e que, depois, votam no Oscar.
E é aqui que as notícias para Wagner Moura se tornam realmente animadoras.
Onde estão os sinais mais promissores
O ator já conquistou o prêmio de Melhor Ator no New York Film Critics Circle Awards (NYFCC), um dos círculos de crítica mais tradicionais e respeitados dos Estados Unidos. Mais importante: veículos especializados de grande prestígio como Variety e The Hollywood Reporter apontam Wagner Moura como favorito em suas listas de previsões para o Oscar 2026.
A The Hollywood Reporter foi além: elegeu O Agente Secreto como o melhor filme de 2025, classificando-o como “uma obra-prima sui generis” e destacando que Wagner “está em sua melhor forma”. Quando uma publicação dessa envergadura – que é lida por todos os membros da Academia – faz um elogio desse calibre, é sinal de que a campanha está no caminho certo.
Agora, é preciso acompanhar as premiações que realmente importam: o SAG Awards (sindicato dos atores), que divulga seus indicados em janeiro; o DGA Awards (sindicato dos diretores); e as demais categorias técnicas. São esses membros que votam, depois, no escrutínio da Academia.
A trajetória triunfal desde Cannes
Vale lembrar que a jornada de sucesso começou em maio, no Festival de Cannes, onde O Agente Secreto competiu pela Palma de Ouro. Wagner Moura levou o prêmio de Melhor Ator, e Kleber Mendonça Filho foi premiado como Melhor Diretor. O longa ainda conquistou o Prêmio FIPRESCI e o Prix des Cinémas d’Art et Essai.
Desde então, o filme acumula reconhecimentos nos principais circuitos de premiações, e a campanha de Moura ganha força. O Agente Secreto também é o representante brasileiro na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional.
Por que isso importa
Mais do que a vaidade de um prêmio, uma vitória de Wagner Moura no Oscar – ou mesmo uma indicação – representa o reconhecimento de que o cinema brasileiro tem não apenas histórias importantes a contar, mas atores de altíssimo nível técnico capazes de emocionar plateias em qualquer lugar do mundo.
Como o próprio Moura declarou ao The New York Times: “Quanto mais velho fico, mais me esforço para incorporar cada vez mais de mim ao personagem. É como compartilhar algo sobre mim, algo em que acredito. Sou uma pessoa muito política e, claro, isso se manifesta nas coisas que faço. Arte e política estão intimamente ligadas”.
A torcida mais uma vez deverá ser grande. Vamos ficar atentos ao desenrolar das premiações – e são várias. Os próximos meses prometem ser ainda mais inéditos para o cinema brasileiro.
Como no ano passado, cruzem os dedos.



