O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), voltou a defender que haja limitação de acesso ao Supremo Tribunal Federal para questionar decisões do Congresso Nacional. Após a crise entre governo Lula e Legislativo escalar com a judicialização do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o parlamentar classificou a discussão como urgente e afirmou que o acesso facilitado à Corte “é um problema seríssimo” no Brasil. A proposta prevê que apenas partidos com representação suficiente possam ingressar com ações contra o Parlamento.
Alcolumbre já havia abordado o tema em entrevistas anteriores e retomou o assunto na quarta-feira durante sessão do Senado. O presidente da Casa defendeu proposta que estabeleça os “legitimados” a entrar no STF contra decisões congressuais.
“Nós temos que discutir com urgência no Congresso Brasileiro em relação aos legitimados que podem acessar o Supremo Tribunal Federal para questionar qualquer lei votada no Congresso”, declarou Alcolumbre ao discursar na sessão.
Críticas ao acesso “muito aberto” ao STF
O senador criticou o que considera excesso de facilidade para questionar legislação parlamentar no Supremo. Segundo Alcolumbre, atualmente “todo mundo pode acessar e questionar qualquer coisa e entrar com uma Adin em relação à legislação votada pelo Parlamento brasileiro”.
Nos bastidores, o presidente do Senado avalia que o STF tem sido chamado a decidir sobre temas do Congresso de forma exagerada. Para ele, eventual limitação seria positiva para o próprio Judiciário, diminuindo sensação de interferência da Corte.
O parlamentar citou especificamente o caso IOF como exemplo dos problemas atuais. “As críticas ao Judiciário são fruto daqueles que procuram no Judiciário, como o caso do IOF, foi um partido político que entrou fazendo o primeiro questionamento”, exemplificou.
Proposta vincula legitimidade à cláusula de barreira
A ideia central de Alcolumbre é que apenas partidos que superem a cláusula de barreira possam ingressar com ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra decisões do Congresso. A medida representaria endurecimento significativo do acesso ao controle concentrado de constitucionalidade.
Para superar a cláusula de barreira, o partido precisa obter nas eleições para a Câmara dos Deputados pelo menos 2% dos votos válidos nacionalmente. Esses votos devem estar distribuídos em no mínimo nove estados, com pelo menos 1% dos votos válidos em cada unidade federativa.
Alternativamente, a legenda pode eleger ao menos 11 deputados federais, também distribuídos em no mínimo nove unidades da federação. Esse critério busca garantir representatividade nacional das agremiações com acesso ao STF.
Constituição estabelece nove legitimados atualmente
O artigo 103 da Constituição Federal lista atualmente nove legitimados para propor ações diretas de inconstitucionalidade (ADI), ações declaratórias de constitucionalidade (ADC) e arguições de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) no STF.
Entre os legitimados estão Presidente da República, Mesas do Senado e da Câmara, Mesas de Assembleias Legislativas, Governadores, Procurador-Geral da República e Conselho Federal da OAB. Completam a lista partidos políticos com representação no Congresso e confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.
A proposta de Alcolumbre afetaria especificamente os partidos políticos, que atualmente podem questionar legislação independentemente do tamanho de sua bancada. A mudança exigiria reforma constitucional para ser implementada.
Redução de questionamentos judiciais como objetivo
O presidente do Senado argumenta que levar “todas as discussões do Congresso, com todos os legitimados, para o Supremo Tribunal Federal” gera insatisfação constante. Para ele, sempre haverá quem fique satisfeito e quem fique insatisfeito com decisões da Corte.
A proposta visa reduzir volume de ações contra decisões parlamentares, diminuindo tensão entre Poderes. Alcolumbre considera que isso beneficiaria tanto o Legislativo quanto o Judiciário, reduzindo desgaste institucional.
O senador reconhece que AGU tem “legitimidade e prerrogativa” para questionar decisões, mas critica facilidade de acesso de outras entidades. A diferenciação sugere que governo manteria capacidade de questionar legislação parlamentar.
Contexto de crise institucional
A declaração de Alcolumbre ocorre em momento de tensão entre governo e Congresso, iniciada pela derrubada do decreto que aumentava alíquotas do IOF. A posterior judicialização do caso pela AGU intensificou o conflito institucional.
O presidente do Senado busca apresentar solução que reduza transferência de disputas políticas para arena judicial. A proposta reflete preocupação com what alguns consideram excessiva judicialização da política no Brasil.
A discussão sobre legitimidade para questionar decisões congressuais integra debate mais amplo sobre separação de poderes e limites da atuação judicial. O tema promete gerar controvérsia entre diferentes setores políticos e jurídicos.