Por Carolina Villela
Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal pelo PL-RJ, prestou depoimento ao ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde desta segunda-feira. O relator da ação penal conduziu a audiência para ouvir esclarecimentos sobre as acusações de que Ramagem teria participado de uma suposta trama golpista para manter Jair Bolsonaro no poder após as eleições de 2022.
Ramagem é acusado pela Polícia Federal de integrar o “núcleo crucial” que planejou um golpe de Estado, respondendo pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Documentos privados e urnas eletrônicas
Durante o depoimento, Ramagem defendeu-se das acusações relacionadas a documentos encontrados pela investigação. O ex-diretor da Abin alegou que um texto mencionado no relatório da Polícia Federal estava em um documento privado que tratava do processo eleitoral, mas negou que fosse concernente às urnas eletrônicas. Segundo ele, o documento abordava apenas “a discussão que ocorria na Câmara dos Deputados sobre o voto impresso”.
Ramagem afirmou que as anotações estavam em um computador pessoal que possui desde 2019 e negou ter repassado o documento para qualquer pessoa. O deputado sustentou que suas publicações em redes sociais falavam apenas sobre “a segurança do voto auditável” e não continham ataques ao sistema eleitoral.
O ex-diretor da Abin admitiu ter encaminhado um vídeo para Bolsonaro mostrando uma audiência no plenário do STF sobre a evolução das urnas eletrônicas em testes de segurança, mas classificou como “mensagem privada” a comunicação em que teria afirmado ter certeza de fraude nas eleições.
Negativa sobre uso da estrutura da Abin
Ramagem negou categoricamente ter utilizado a estrutura da Abin para questões pessoais de Bolsonaro ou para monitoramento de autoridades. “Não houve essa questão”, afirmou ao ser questionado sobre o uso da agência para fins particulares do ex-presidente. O deputado também negou a existência de um grupo de trabalho informal na Abin.
Sobre o arquivo intitulado “Bom dia, presidente”, encontrado em seu celular durante a investigação, Ramagem explicou que tinha o objetivo de “levar a Abin ao teste público de segurança” e que não teria sido enviado a Bolsonaro. O ex-diretor reforçou que “sempre teve um bom contato com Bolsonaro”, mas que isso não envolvia questões relacionadas à Abin, argumentando que “a família Bolsonaro não precisa de informações sigilosas”.
Programa First Mile e auditoria interna
Durante o depoimento, Ramagem abordou o programa espião First Mile, revelando que pediu uma auditoria em 2020 para apurar militares envolvidos na aquisição de sistemas da Agência. “Naquela época, a gente suspeitava que havia uma investigação privada ali”, explicou, informando que encerrou o programa em 10 de maio de 2021.
O ex-diretor criticou o fato de a Polícia Federal ter incluído o First Mile na investigação mesmo sabendo do encerramento do contrato. Segundo Ramagem, o programa era utilizado “sem dizer o motivo do alvo”, mas sua operação já havia sido interrompida quando das investigações.
Ao final do depoimento, que durou cerca de uma hora e meia, Ramagem reiterou que “não falou mais de urna eletrônica depois da votação da Câmara” e negou ter conspirado contra o processo eleitoral. O ministro Alexandre de Moraes conduziu toda a audiência, encerrando os trabalhos às 19h50.