Por Carolina Villela
Em rápida conversa com jornalistas no intervalo da sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que nesta segunda-feira (9) ouve o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-presidente Jair Bolsonaro adotou um tom cauteloso, evitou comentários diretos sobre as falas de seu ex-ajudante de ordens e minimizou a possibilidade de enfrentar uma eventual prisão.
“Não tem preparação pra nada. Não tem por que me condenar. Estou com a consciência tranquila”, afirmou Bolsonaro, ao ser questionado sobre um eventual avanço das investigações que o colocam como alvo de uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Bolsonaro voltou a negar conhecimento de conversas em grupos de WhatsApp que sugeriam pressão sobre comandantes das Forças Armadas e disse que seus advogados ainda não tiveram acesso completo ao material: “Desconheço, cara. Meus advogados não conseguiram ver tudo ainda. Tinha uma série de assuntos acontecendo, inclusive a paralisação de caminhoneiros que precisava ser contida.”
Quando perguntado sobre Mauro Cid, que por anos foi seu braço-direito na Presidência, Bolsonaro manteve a cautela. “Ele foi meu auxiliar por quatro anos, mas não vou entrar em detalhes aqui. Não quero confrontar ninguém. Vamos aguardar os desdobramentos.”
Cid presta novo depoimento ao STF nesta segunda, no âmbito da investigação que apura articulações golpistas após a eleição de 2022. Parte do conteúdo das colaborações dele teria implicado diretamente Bolsonaro e outros aliados militares.
“Medalha do Pacificador”
Durante o encontro com a imprensa, Bolsonaro usava a Medalha do Pacificador com Palma, honraria militar rara, e se deteve por alguns minutos explicando a origem da condecoração, relatando um episódio em que teria salvo um colega afrodescendente da morte por afogamento.
“Essa medalha é pra quem arrisca a vida pra salvar a do outro. Já fui acusado de ser racista. Mas salvei um afrodescendente. O nome dele era Celso Negão. Se eu fosse racista, não teria mergulhado naquela lagoa”, afirmou o ex-presidente, em mais uma tentativa de se defender das acusações que o cercaram durante seu governo.
“É bravata”
Em tom coloquial e muitas vezes confuso, Bolsonaro também usou metáforas militares e expressões como “bravata” e “cantina do quartel” para justificar o clima informal e rotineiro de conversas em sua gestão. “Na cantina você resolve os problemas do mundo. Cada um fala uma coisa e resolve tudo ali. É bravata, é um falatório qualquer”, minimizou.
O ex-presidente encerrou a fala evitando responder perguntas sobre possíveis alterações sugeridas em documentos golpistas e sobre eventuais punições a militares envolvidos.