Pré-candidatura do senador ao Planalto provoca surpresa no mercado e leva à retirada de R$ 2 bilhões da bolsa brasileira
O anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República, feito na sexta-feira (5), gerou forte impacto no mercado financeiro. Investidores estrangeiros retiraram R$ 2 bilhões do segmento secundário da B3, e o Ibovespa encerrou o dia com queda de 4,31%, refletindo o aumento da aversão a risco.
A reação foi motivada principalmente pelo efeito surpresa. O mercado não esperava a entrada de Flávio na corrida presidencial, enxergando o movimento como uma reconfiguração estratégica do bolsonarismo. O temor entre analistas é de que a candidatura traga instabilidade institucional e incerteza econômica no cenário eleitoral de 2026.
Mercado vê candidatura como tentativa de barganha política
Para analistas políticos e financeiros, a entrada de Flávio no páreo tem menos a ver com viabilidade eleitoral e mais com articulações nos bastidores. No domingo (7), o senador declarou que sua desistência teria um “preço”, o que alimentou a interpretação de que se trata de uma manobra para pressionar por anistia ao pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe e preso em Brasília.
João Mamede, analista sênior da AZ Quest, avalia que o impacto nos ativos se deu pela ausência de sinais prévios: “Ninguém estava posicionado para esse cenário. Foi uma reprecificação imediata”, afirmou ao Valor. Para ele, o mercado não precificava uma candidatura real, mas sim uma jogada de bastidores para influenciar o tabuleiro político.
Instabilidade política afeta o desempenho da bolsa
A confirmação de que Flávio pretende levar a candidatura adiante, feita nesta terça-feira (9), manteve a pressão sobre os ativos domésticos. Por volta das 11h45, o Ibovespa recuava 1,24%, aos 156.221 pontos. A falta de consenso dentro da direita e a possível fragmentação do campo conservador são vistos por analistas como fatores que podem favorecer o governo Lula, ao enfraquecer a oposição nas urnas.
Apesar da retirada expressiva na sexta-feira, o saldo anual dos investidores estrangeiros na bolsa ainda permanece positivo, com R$ 25,6 bilhões de entrada líquida. No mês de dezembro, contudo, o saldo está negativo em R$ 1,7 bilhão, indicando um possível sinal de alerta para os próximos movimentos políticos.
Incógnitas eleitorais adicionam risco ao cenário econômico
A reação do mercado ao anúncio de Flávio Bolsonaro revela o grau de sensibilidade dos investidores ao ambiente político. O histórico recente de instabilidade, somado ao julgamento e prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz com que a candidatura do filho seja vista com cautela. A possibilidade de que novas tensões institucionais ganhem força em 2026 preocupa o mercado, que prefere previsibilidade e moderação.
Por ora, analistas seguem monitorando se a pré-candidatura se sustentará ou será usada como moeda de troca. Até lá, a volatilidade deve continuar a marcar o comportamento dos ativos brasileiros.



