Da Redação
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 854, determinou o encaminhamento à Polícia Federal do 8º Relatório Técnico da Controladoria-Geral da União (CGU), que identificou irregularidades generalizadas na execução de emendas parlamentares do tipo transferências especiais, conhecidas como “emendas Pix”. A medida tem como objetivo verificar indícios de crimes e, se necessário, instaurar novos procedimentos investigativos ou complementar investigações já em curso sobre o uso indevido de recursos públicos federais.
A complementação do relatório da CGU avaliou 20 entes federados que receberam os maiores valores dessas transferências em 2024, revelando um cenário preocupante de descumprimento sistemático das normas constitucionais e legais. Segundo o levantamento, nenhum dos municípios analisados cumpriu integralmente as exigências legais dos planos de trabalho, 14 já haviam utilizado os recursos e 11 apresentaram algum tipo de irregularidade na contratação de serviços ou compra de bens. Os dados também revelaram que não foram observados níveis adequados de transparência ativa, e apenas cinco entes atenderam plenamente às regras de rastreabilidade orçamentária previstas no artigo 163-A da Constituição Federal.
Práticas deletérias persistem apesar de avanços normativos
O ministro Flávio Dino destacou em sua decisão que, apesar dos avanços normativos e tecnológicos implementados nos últimos anos com a participação dos três Poderes, persistem “práticas deletérias” e falhas graves na execução das emendas parlamentares. As irregularidades representam descumprimento direto às determinações do STF e aos princípios constitucionais que regem o orçamento público, comprometendo a aplicação adequada de dezenas de bilhões de reais do Orçamento da União.
O encaminhamento do relatório à Polícia Federal visa permitir que a investigação criminal avance sobre possíveis desvios de recursos públicos, fraudes em licitações e outras condutas criminosas identificadas nas auditorias. A medida demonstra a disposição do STF em não apenas fiscalizar administrativamente a execução das emendas, mas também garantir a responsabilização penal dos envolvidos em irregularidades.
A decisão se insere no contexto de um processo estrutural que o STF mantém sobre emendas parlamentares, buscando garantir transparência, rastreabilidade e conformidade com os princípios constitucionais na aplicação desses recursos. O ministro reafirmou que esse processo continuará em curso enquanto não houver conformidade plena com as normas constitucionais e com as diretrizes fixadas pelo Plenário da Corte.
CGU deverá apresentar plano de auditorias para 2026
Além do encaminhamento do relatório à Polícia Federal, o ministro Flávio Dino determinou que a Controladoria-Geral da União apresente, no prazo de 30 dias, o plano de auditorias sobre emendas parlamentares para o exercício de 2026. O planejamento deverá contemplar todas as regiões do país e áreas críticas consideradas prioritárias, como saúde e obras de pavimentação, setores que tradicionalmente recebem volumes significativos de recursos de emendas parlamentares.
A determinação visa garantir que o monitoramento sobre a execução das emendas seja sistemático, abrangente e estrategicamente direcionado para as áreas com maior potencial de irregularidades. A CGU tem desempenhado papel fundamental na fiscalização desses recursos, produzindo relatórios detalhados que subsidiam as decisões do STF e orientam as ações de responsabilização.
O foco em saúde e pavimentação se justifica pelo volume de recursos destinados a essas áreas e pelas recorrentes denúncias de irregularidades em obras públicas e na aquisição de equipamentos médicos. A fiscalização preventiva e sistemática nessas áreas pode evitar desvios milionários e garantir que os recursos cheguem efetivamente à população na forma de serviços e infraestrutura.
AGU terá 60 dias para relatório sobre recuperação de recursos
A Advocacia-Geral da União (AGU) também foi acionada pelo ministro Flávio Dino e deverá apresentar, no prazo de 60 dias, o primeiro relatório do grupo de trabalho criado especificamente para coordenar medidas de responsabilização e recuperação de recursos desviados. O grupo tem a missão de articular ações jurídicas para ressarcir aos cofres públicos os valores identificados como irregularmente aplicados ou desviados.
A atuação da AGU é essencial para garantir que as irregularidades identificadas pela CGU e investigadas pela Polícia Federal resultem efetivamente em recuperação de recursos e punição dos responsáveis. O grupo de trabalho deve promover ações civis públicas, acordos de leniência e outras medidas judiciais cabíveis para reaver o dinheiro público malversado.
A determinação estabelece um cronograma claro de prestação de contas, com a apresentação periódica de relatórios ao STF sobre as medidas adotadas, os valores recuperados e os responsáveis punidos. Essa sistemática de acompanhamento busca evitar que as irregularidades identificadas fiquem apenas no papel, sem consequências concretas para os envolvidos.



