Por Carolina Villela
O almirante da reserva Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, negou nesta manhã ao ministro Alexandre de Moraes as acusações de participação em tentativa de golpe de Estado. Durante depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), Garnier refutou ter oferecido tropas navais para impedir a posse do presidente Lula após as eleições de 2022.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa o almirante de ser o único dos três comandantes das Forças Armadas a aceitar o plano golpista. Segundo investigações da Polícia Federal, Garnier teria afirmado ter “tanques no Arsenal prontos” para a ação.
Reuniões presidenciais sob questionamento
O ex-comandante confirmou sua participação em reunião convocada por Jair Bolsonaro em 7 de dezembro de 2022. “O principal assunto era a preocupação de Bolsonaro com inúmeras pessoas que estavam insatisfeitas com o resultado das eleições”, afirmou.
Garnier disse que foram discutidas a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e medidas de segurança pública. “Não vi minuta, ministro. Vi uma apresentação na tela de um computador”, declarou ao STF, negando conhecer minuta golpista.
O almirante negou que tenham conversado sobre novas eleições e afirmou que não houve conclusões na reunião. Segundo ele, “o discurso de Bolsonaro parecia ser mais uma demonstração de preocupações” do que intenção de conduzir ações específicas.
Negativa sobre disponibilização de tropas
“Eu nunca usei essa expressão”, afirmou Garnier sobre a alegação de que teria colocado tropas à disposição. O ex-comandante disse que não houve deliberação e que “o presidente não abriu a palavra para gente”.
Sobre a reunião de 14 de dezembro de 2022 no Ministério da Defesa, Garnier a classificou como “estranha”. Ele relatou que chegou depois dos outros participantes e teve a impressão de que o ministro “parecia estar chateado”.
O almirante confirmou que o brigadeiro Baptista Júnior, ex-chefe da Aeronáutica, deixou a reunião antes dele. Negou que houve apresentação de documentos no encontro convocado pelo então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira.
Urnas eletrônicas e atos de 8 de janeiro
Garnier confirmou que defendeu auditorias nas urnas eletrônicas em entrevista, mas disse não saber de fraudes. “A auditoria em si não demonstrou nada”, declarou ao STF sobre os testes realizados pelas Forças Armadas.
O ex-comandante negou que a exibição de blindados da Marinha tenha sido programada para o dia da votação sobre voto impresso. “Foi uma coincidência”, ressaltou.
Sobre os atos de 8 de janeiro, Garnier disse que estava em casa e soube pela televisão. “Fiquei chocado com aquilo”, completou, negando conhecimento de orquestração ou mobilização.
Transição de comando e carta das Forças Armadas
O almirante explicou que passou o comando da Marinha em 31 de dezembro de 2022, quando estava “emocionalmente sobrecarregado”. Não participou da cerimônia oficial porque o sucessor pediu que ocorresse em janeiro, com o novo ministro da Defesa.
Sobre a carta assinada pelas Forças Armadas após as eleições, Garnier atribuiu a iniciativa ao general Freire Gomes. “Ele pra mim foi o autor da iniciativa”, disse.
O depoimento foi encerrado às 10h18 pelo ministro Alexandre de Moraes. Garnier relatou ter trabalhado em vários governos e afirmou que não era assessor presidencial, preferindo se manter calado em situações que não envolviam a Marinha.