A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu aliados não apenas pela repercussão judicial, mas pela fraca resposta popular. A expectativa de mobilizações em massa não se concretizou, e o bolsonarismo já admite, nos bastidores e nas redes sociais, um sentimento crescente de frustração com o silêncio das ruas.
Reação aquém do esperado preocupa aliados
Influenciadores, parlamentares e apoiadores do ex-presidente avaliam que a base bolsonarista está apática. A ausência de grandes protestos é atribuída a uma combinação de cansaço, temor de represálias e uma estratégia de repressão que teria se desenrolado gradualmente, diminuindo o impacto da prisão.
O cenário mais evidente dessa apatia foi a vigília organizada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em frente ao condomínio do pai, em Brasília. A manifestação reuniu apenas algumas dezenas de pessoas, número que se repetiu em frente à Superintendência da Polícia Federal, onde Bolsonaro está preso em cela especial.
Influenciadores cobram mobilização
Nas redes sociais, figuras ligadas ao movimento conservador passaram a criticar abertamente a baixa mobilização. Martin De Luca, advogado da Trump Media, afirmou no X (ex-Twitter) que “nenhum país estrangeiro pode salvar uma nação cujos próprios cidadãos têm medo demais de defendê-la”. A frase foi amplamente compartilhada por bolsonaristas como um alerta.
O blogueiro Paulo Figueiredo, réu em processo no STF, reforçou o tom de cobrança. Em transmissão ao vivo, pediu mais engajamento da base e lembrou que, sem pressão popular, não haverá avanço em pautas como a anistia. “Se vocês se entregarem, será pior”, declarou.
‘Cansaço’ e ‘medo’ explicam desmobilização
Aliados próximos, como o vereador paulistano Adrilles Jorge (União Brasil), reconhecem o desgaste entre os apoiadores. “Depois de dezenas de tentativas que não deram em nada, o povo se cansou. Só tem meia dúzia de senhoras rezando pelo Bolsonaro”, afirmou.
Para Adrilles, cabe aos líderes políticos da direita — especialmente governadores como Tarcísio de Freitas — assumir a linha de frente e conclamar a população. Já a deputada federal Rosana Valle (PL-SP), próxima de Michelle Bolsonaro, enxerga cautela e não apatia: “O momento exige estratégia, não impulsividade”.
Estratégia do Judiciário também é apontada
O deputado estadual Tenente Coimbra (PL-SP) usou a expressão “prisão em doses homeopáticas” para explicar a falta de comoção. A cronologia da prisão, que incluiu bloqueios nas redes sociais, prisão domiciliar e, por fim, a detenção preventiva, teria reduzido o choque público.
Para Coimbra, o Judiciário agiu para “cozinhar o sapo devagar”, reduzindo o impacto entre os apoiadores. Apesar disso, ele acredita que o apoio a Bolsonaro permanece sólido. “Enfraqueceram as ruas, mas não o sentimento de injustiça.”
Estratégia atual mira Congresso, não as ruas
Hoje, a mobilização se concentra nos bastidores. Deputados e senadores do PL têm orientado suas bases a pressionar o Congresso para votar a favor da anistia. Não há, por ora, plano para manifestações de rua, diante da avaliação de que protestos poderiam ser distorcidos ou criminalizados.
Nas redes, o desânimo também é percebido por analistas. Segundo Sergio Denicoli, cientista de dados e CEO da AP Exata, parte do campo bolsonarista passa por uma espécie de “mea-culpa”. Muitos reavaliam ações passadas e demonstram insatisfação com parlamentares da própria direita.
Futuro incerto e divisão na base
Denicoli aponta ainda uma divisão crescente: enquanto alguns ainda esperam que Bolsonaro volte à política, outros defendem que o movimento conservador encontre um novo líder. “Há resistência em passar o bastão, mas cresce a percepção de que isso pode ser necessário para manter o grupo politicamente relevante.”



