O governo do Estado do Rio de Janeiro confirmou nesta sexta-feira (31) a identificação de 99 dos 117 mortos na megaoperação policial realizada na última terça-feira (28), nas comunidades do Alemão e da Penha. A ação é considerada a mais letal da história do país. Segundo o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, 42 dos mortos tinham mandados de prisão em aberto. Outros 78 apresentavam histórico criminal relevante, embora nem todos tivessem pendências judiciais.
Parte dos mortos era de outros Estados
De acordo com Curi, 40 dos suspeitos mortos com antecedentes criminais vieram de outros Estados, entre eles Pará, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Paraíba e Mato Grosso. A movimentação interestadual de criminosos, segundo ele, reforça o impacto das restrições impostas à atuação policial nos últimos anos.
“Essas limitações tornaram o Rio de Janeiro um refúgio para criminosos de outros Estados”, afirmou o secretário em entrevista coletiva, referindo-se a decisões judiciais que restringem operações nas favelas. Uma das principais limitações é a ADPF das Favelas, medida do Supremo Tribunal Federal tomada durante a pandemia, que exige justificativa para operações policiais em áreas de risco e proíbe, por exemplo, helicópteros com atiradores em voos baixos sobre comunidades.
Operação visava liderança do Comando Vermelho
A ação policial foi direcionada ao Comando Vermelho, facção criminosa que, segundo o governo fluminense, instalou seu quartel-general nos complexos da Penha e do Alemão. A megaoperação, batizada de “Operação Contenção”, teve como principal alvo Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, apontado como o maior líder da facção fora da prisão. Apesar do aparato mobilizado, ele conseguiu escapar. “Foi por pouco. Prender o Doca é questão de tempo”, declarou Curi.
Uso de drones e armas de guerra preocupa autoridades
A estrutura montada pelo Comando Vermelho inclui o uso de drones armados com granadas e equipamentos de visão noturna. Conversas interceptadas com autorização judicial e usadas como base para a operação revelam que os criminosos discutiam a aquisição de tecnologia de ponta para monitorar e atacar forças policiais.
Durante a operação, os policiais foram atingidos por granadas lançadas por drones, o que demonstra o grau de sofisticação bélica da facção. A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro, que motivou a ação, foi apresentada em maio e aponta a existência de uma “estrutura militarizada” na Penha.
Críticas e apoio dividem autoridades
Apesar das 113 prisões, incluindo 33 suspeitos vindos de outros Estados e 10 menores de idade apreendidos, a operação recebeu críticas de diversos setores. A ministra dos Direitos Humanos classificou a ação como um fracasso e defendeu a realização de perícias independentes para apurar as mortes.
Por outro lado, o governador Cláudio Castro (PL) elogiou os resultados da operação. Em publicação nas redes sociais, ao lado de Curi, afirmou: “Nosso trabalho é livrar a sociedade do tráfico, da milícia e de todo aquele que queira tirar nosso direito de ir e vir”.
Curi também reforçou que a operação é parte de uma ofensiva contínua contra o crime organizado. Segundo ele, a facção movimenta até 10 toneladas de drogas por mês nas comunidades onde atua, além da negociação de 50 a 70 fuzis no mesmo período.
MP denuncia 68 suspeitos por envolvimento com facção
A denúncia do MP estadual envolve 68 pessoas por envolvimento com o Comando Vermelho. O material inclui provas obtidas por meio de interceptações de mensagens em aplicativos, como o WhatsApp, que detalham atividades criminosas, como o uso de armamento pesado, execuções de rivais e estratégias para escapar de ações policiais.
As investigações mostram que a facção atua como uma organização paramilitar, com disciplina, hierarquia e alto poder de fogo. A expectativa das autoridades é que, mesmo com a fuga de lideranças, o cerco continue se fechando contra os principais nomes do crime organizado no Estado.



