Em momento inédito durante seu julgamento por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizou diálogo descontraído com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O encontro revelou desde explicações sobre os motivos que impediram um suposto golpe até um convite inusitado para Moraes ser seu vice-presidente em 2026.
Durante o interrogatório, Bolsonaro explicou por que não teria prosseguido com um projeto golpista. Segundo ele, não havia condições políticas adequadas para implementar medidas excepcionais como estado de sítio ou defesa.
“Se nós fôssemos prosseguir no estado de sítio, o estado de defesa, as medidas seriam outras, na ponta da linha, que teriam outras instituições envolvidas”, declarou o ex-presidente. Ele complementou afirmando que “não tinha clima, não tinha oportunidade, não tínhamos uma base minimamente só para se fazer qualquer coisa”.
Pedido de reconsideração da multa milionária
Em seguida, Bolsonaro aproveitou o momento para solicitar a devolução de recursos do Partido Liberal (PL). A legenda foi multada em R$ 22 milhões pelo Tribunal Superior Eleitoral por questionamentos infundados ao sistema eletrônico de votação.
“Repito, só foi conversado, essas outras hipóteses constitucionais, tem de vista o TSE ter fechado as portas para a gente com aquela multa lá”, disse Bolsonaro. O ex-presidente pediu que Moraes “possa reconsiderar aquela multa e [o dinheiro] volte para o partido”.
Moraes foi direto em sua resposta: “Trânsito em julgado, porque o plenário do TSE confirmou”. A decisão já não pode mais ser alterada pelo Supremo Tribunal Federal.
Proposta de envio de imagens da popularidade
O diálogo tomou rumo ainda mais inusitado quando Bolsonaro falou sobre sua popularidade pelo país. O ex-presidente mencionou viagens pelo Nordeste e a recepção calorosa que recebe da população.
“Fizemos a coisa certa, sempre cumprindo a constituição, com respeito, com tranquilidade, com Deus no coração”, declarou Bolsonaro. Ele destacou “uma aceitação grande” especialmente durante “as viagens que eu faço pelo Nordeste”.
Em tom informal, Bolsonaro ofereceu: “O senhor me permitiu, logicamente, eu posso mandar umas imagens pro senhor, como é que o povo nos trata, a gente na rua”. A proposta evidenciou a tentativa de demonstrar apoio popular ao ministro responsável pelo julgamento.
Convite para chapa presidencial em 2026
O momento mais surpreendente ocorreu quando Bolsonaro fez um convite político direto a Moraes. Após pedir permissão para “fazer uma brincadeira”, o ex-presidente lançou uma proposta inesperada para as eleições de 2026.
“Eu gostaria de convidá-los para serem meu vice em 26”, disse Bolsonaro ao ministro. A sugestão provocou resposta imediata e bem-humorada de Alexandre de Moraes.
“E eu declino de novo!”, respondeu o ministro, indicando que não era a primeira vez que recebia tal convite do ex-presidente. A reação demonstrou o tom descontraído que marcou parte do interrogatório.
O diálogo inusitado entre Bolsonaro e Moraes revelou facetas pouco conhecidas da relação entre ambos. Mesmo em um contexto judicial tenso, os dois protagonizaram momentos de descontração que contrastaram com a seriedade do processo em andamento.