O pastor Silas Malafaia alterou a narrativa sobre os cadernos apreendidos durante operação da Polícia Federal no último dia 20 de agosto. Durante discurso na manifestação bolsonarista da Avenida Paulista neste domingo, o líder religioso admitiu que um dos materiais era usado para preparar vídeos e discursos políticos. Anteriormente, Malafaia sustentava que todas as anotações eram destinadas exclusivamente a estudos bíblicos e pregações religiosas, alegando perseguição religiosa por parte das autoridades.
A mudança sutil na versão coincide com revelações das investigações da PF sobre tentativa de obstrução do julgamento de Jair Bolsonaro. Pastor foi interceptado no Aeroporto Internacional do Galeão ao retornar de Portugal, tendo telefone celular, passaporte e cadernos confiscados pelos agentes. Operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes como parte de inquérito sobre coação ao STF.
Delegado queria liberar três cadernos inicialmente
Durante fala na Paulista, Malafaia detalhou como ocorreu a abordagem no aeroporto carioca no mês passado. “Um delegado, um cara educado, que me tratou com toda a cortesia. Abriu minhas malas, e eu gosto de escrever em caderno”, relatou o pastor aos manifestantes presentes na avenida.
Segundo relato do líder religioso, agente da PF folheou todos os materiais página por página antes da decisão. “Três cadernos de esboços bíblicos. O delegado folheou folha por folha”, descreveu Malafaia durante pronunciamento. Investigador inicialmente pretendia liberar maior parte do material apreendido durante revista no terminal aeroportuário.
A reviravolta ocorreu quando delegado identificou conteúdo diferenciado em um dos cadernos confiscados. “Um caderno que eu escrevo meus discursos e os vídeos que eu gravo. O delegado disse: ‘Pastor, eu vou liberar esses três cadernos, mas esse aqui eu vou segurar'”, admitiu o pastor.
Ordem superior determinou apreensão total
Malafaia revelou que decisão inicial do delegado foi alterada após contato com superiores em Brasília. Pastor referiu-se ao “chefe da Gestapo em Brasília” ao descrever autoridade que ordenou confisco total. “Ele ligou pra lá e o cara disse: ‘Recolhe todos os cadernos'”, completou durante discurso dominical.
A operação baseou-se em relatório da PF que apresenta conversas entre pastor e Bolsonaro recuperadas de telefones. Mensagens haviam sido excluídas mas foram restauradas pelos investigadores durante análise forense dos aparelhos. Diálogos apontam suposta articulação para pressionar STF através de redes sociais e lobby internacional.
Investigação aponta instrumentalização das plataformas digitais de Malafaia para coagir ministros do Supremo Tribunal Federal. “Referida estratégia consistiria na utilização da posição de autoridade perante seu público para propagar atos de coação contra ministros do STF”, afirma PF no relatório.
Pastor produziu mais de 50 vídeos contra Moraes
Redes sociais do líder religioso tornaram-se principal vetor de ataques ao Supremo Tribunal Federal nos últimos anos. Malafaia costuma citar que publicou mais de 50 vídeos atacando especificamente Alexandre de Moraes desde reta final do governo Bolsonaro. Pastor rotineiramente descreve o ministro como “ditador da toga” em suas transmissões digitais.
Estratégia investigada pela PF incluiria coordenação com lobby de Eduardo Bolsonaro junto a autoridades americanas. Objetivo seria aplicação de sanções contra autoridades brasileiras e tarifas comerciais contra o país. Articulação visaria pressionar STF a não condenar ex-presidente pela tentativa de golpe de 2022.
A admissão de Malafaia sobre uso dos cadernos para preparação de conteúdo político reforça linha investigativa da Polícia Federal. Mudança na versão ocorre em momento crucial do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal. Pastor mantém agenda de ataques às instituições através de suas plataformas digitais com milhões de seguidores.



