Pete Hegseth, secretário de Defesa dos Estados Unidos, republicou em suas redes sociais um material audiovisual onde líderes religiosos cristãos defendem que mulheres não deveriam ter direito ao voto. O conteúdo original foi produzido pela emissora CNN e apresenta como principal entrevistado o pastor Doug Wilson, figura controversa do movimento evangélico conservador americano.
No vídeo compartilhado, o pastor Toby Sumpter expressa sua visão sobre o que considera um modelo familiar ideal para as decisões eleitorais. “Geralmente, eu seria o único votante, mas tomaria essa decisão após conversar com minha família”, declarou Sumpter ao canal de televisão americano. O religioso defende que o homem, como chefe da família, deve ser responsável pelas escolhas políticas do núcleo familiar.
Outra participante do material afirma seguir os princípios de submissão ao marido e, por essa razão, apoia que ele seja o responsável pelo voto familiar. As declarações refletem uma interpretação específica de textos bíblicos adotada por algumas correntes evangélicas conservadoras.
pastor Doug Wilson e suas posições controversas
Doug Wilson, cofundador da Comunhão das Igrejas Evangélicas Reformadas (CREC), possui um histórico de declarações polêmicas sobre o papel das mulheres na sociedade. Durante a entrevista, o pastor justifica sua recusa em aceitar mulheres em posições de liderança eclesiástica afirmando que “a bíblia determina assim”, segundo declarou à CNN.
O religioso já manifestou publicamente sua oposição à participação feminina em cargos de comando militar ou funções de combate de alto nível. Suas posições se estendem além das questões de gênero, incluindo textos onde defende práticas escravagistas.
Em 2024, Wilson teve sua participação cancelada no evento brasileiro Consciência Cristã após pressão pública motivada por suas publicações pró-escravidão. O pastor também enfrenta acusações de ter encoberto casos de violência sexual e doméstica envolvendo membros de sua congregação.
reação do Pentágono e apoio de Hegseth
Após a repercussão do compartilhamento, um porta-voz do Departamento de Defesa se pronunciou sobre a posição do secretário. O representante oficial afirmou que Hegseth “é um membro orgulhoso de uma igreja filiada” à CREC e “valoriza diversos escritos e ensinamentos do sr. Wilson”, conforme relatado pela CNN.
A família do secretário de Defesa participou da cerimônia de inauguração da igreja de Wilson em julho passado, realizada em Washington. O evento demonstra a proximidade entre o alto funcionário do governo Trump e o líder religioso controverso.
Hegseth, aliado próximo do presidente Donald Trump, tem implementado políticas que refletem uma agenda de nacionalismo cristão dentro do Pentágono. O secretário convidou seu pastor pessoal, Brooks Potteiger, para realizar cultos no edifício governamental durante horário de expediente.
críticas de setores evangélicos progressistas
Organizações cristãs de vertente progressista manifestaram preocupação com as ideias amplificadas pelo secretário de Defesa. Doug Pagitt, pastor e diretor da Vote Common Good, classificou as visões apresentadas no vídeo como posições mantidas por “pequenos grupos de cristãos”, declarou à agência Associated Press.
Pagitt considerou “muito perturbador” que um alto funcionário do governo americano promova tais perspectivas. A crítica reflete divisões internas no movimento evangélico sobre questões de gênero e participação política.
As ações de Hegseth se alinham às diretrizes do governo Trump para promover valores cristãos conservadores nas instituições públicas. O presidente criou um “gabinete da fé” com objetivo de investigar supostos preconceitos anticristãos em agências governamentais.
Wilson expressou à CNN sua ambição de expandir sua influência religiosa: “Gostaria de ver a nação ser uma nação cristã e gostaria de ver o mundo ser um mundo cristão”, declarou o pastor ao canal de televisão.



