STJ define que transportadora não  responde por leite adulterado

Há 41 minutos
Atualizado quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Da Redação

Uma empresa de transporte não pode ser responsabilizada quando o produto que ela carrega apresenta defeitos de fabricação. O caso envolveu leite adulterado transportado no Rio Grande do Sul. A decisão, por unanimidade,  é da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Desse modo, o STJ estabeleceu um importante precedente sobre os limites da responsabilidade na cadeia de consumo ao definir que empresas de transporte não podem ser punidas por vícios de qualidade em produtos que apenas transportam.

A decisão esclarece que apenas quem efetivamente participa da produção ou comercialização e tem ingerência sobre as características do produto pode ser responsabilizado solidariamente, protegendo prestadores de serviço logístico de arcarem com prejuízos que não causaram.

O caso do leite adulterado no Rio Grande do Sul

O Ministério Público gaúcho moveu uma ação coletiva contra diversos participantes da cadeia de produção do leite, incluindo a transportadora. A acusação era de que o leite estava adulterado – ou seja, não atendia aos padrões de qualidade e segurança exigidos por lei.

Nas instâncias anteriores (primeira e segunda instâncias da Justiça), a transportadora foi condenada a pagar indenização por danos morais coletivos aos consumidores. A justificativa era simples: todos que participam da cadeia de fornecimento de um produto devem responder juntos quando há problemas.

Por que a decisão mudou no STJ

A transportadora recorreu ao STJ argumentando que sua função era exclusivamente logística – apenas levar o produto de um lugar para outro. A empresa não participou da fraude e não teve nenhum lucro extra relacionado à adulteração do leite.

O ministro Antônio Carlos Ferreira, relator do caso, concordou com esses argumentos. Ele explicou que o serviço de transporte foi bem feito, já que não houve problemas na entrega, atrasos ou danos durante o trajeto. Destacou também que a  adulteração era um problema interno do produto, pois a fraude aconteceu antes ou depois do transporte, mas não por causa dele. E, finalmente, estabeleceu que não havia conexão entre o trabalho da transportadora e o dano aos consumidores, ou seja, o que os juristas chamam de “nexo causal”.

O que significa nexo causal na responsabilidade civil

É a ligação direta entre uma ação e um resultado. Para responsabilizar alguém por um dano, é preciso provar que a conduta dessa pessoa causou o problema. No caso, como a transportadora apenas levou o leite de um ponto a outro sem alterar suas características, ela não causou a adulteração.

A tese jurídica fixada pelo tribunal

O tribunal estabeleceu uma tese importante: “A empresa transportadora que se limita ao transporte de produtos entre agentes da cadeia produtiva, sem integração funcional na relação de consumo e sem defeito no serviço prestado, não responde objetiva e solidariamente por vícios intrínsecos do produto transportado.”

Traduzindo: se a transportadora não faz parte do processo de produção ou comercialização e prestou seu serviço corretamente, ela não pode ser punida por defeitos que já existiam no produto.

Os limites da responsabilidade solidária

O ministro Antônio Carlos Ferreira alertou para um risco importante: se qualquer empresa que tenha alguma relação com o fornecedor pudesse ser responsabilizada, até empresas de limpeza, publicidade ou consultoria poderiam ter que pagar por problemas em produtos com os quais não tiveram nenhuma relação direta.

Ele destacou ainda que a transportadora recebia pagamento por quilômetro rodado – ou seja, ganhava o mesmo independentemente do volume ou qualidade do leite. Isso demonstra que ela não tinha interesse econômico na fraude.

A aplicação do Código de Defesa do Consumidor

A decisão não enfraquece as proteções ao consumidor. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) continua valendo, mas o STJ esclareceu que a responsabilidade solidária – quando várias empresas respondem juntas – não pode ser aplicada sem limites.

É necessário que exista uma integração funcional na cadeia de consumo. Ou seja, a empresa precisa efetivamente fazer parte do processo de produção, comercialização ou ter alguma ingerência sobre as características do produto.

Resultado prático da decisão

Com essa decisão, a ação coletiva contra a transportadora foi julgada improcedente – ou seja, ela não precisará pagar indenização. O recurso do Ministério Público, que pedia aumento do valor da indenização, ficou prejudicado.

A decisão serve de orientação para casos futuros envolvendo prestadores de serviços logísticos e esclarece os limites da responsabilidade na cadeia de consumo.

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