A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou na madrugada desta sexta-feira (19), em Bruxelas, que a União Europeia (UE) está próxima de finalizar o aguardado acordo comercial com o Mercosul. Segundo ela, após 26 anos de negociações, o bloco europeu teria agora maioria suficiente entre os 27 Estados-membros para aprovar a assinatura do tratado, prevista para ocorrer em três semanas. No entanto, a dirigente reconheceu que ainda existem acertos pendentes com alguns países europeus.
Três semanas a mais após 26 anos de espera
Durante entrevista coletiva às 4h da manhã, Von der Leyen demonstrou otimismo, mesmo admitindo entraves diplomáticos ainda não resolvidos. “Sim, estou confiante de que temos a maioria suficiente, mas ainda há trabalho a fazer com os Estados-membros”, declarou. Para ela, o pequeno atraso é justificável diante da longa trajetória de negociações. “Após 26 anos de negociações, um atraso de três semanas é tolerável”, acrescentou.
O presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, reforçou o mesmo tom, destacando a importância simbólica da iminente conclusão. “Após 26 anos, concordamos em assinar não no sábado, mas três semanas depois”, brincou.
Divergências internas ainda travam o consenso
Apesar do avanço, alguns países ainda apresentam resistências. A chefe do governo italiano, Giorgia Meloni, pediu um prazo extra de duas semanas para alinhar seu gabinete e o Parlamento italiano antes de dar sinal verde à assinatura. Já o presidente francês, Emmanuel Macron, alertou que um mês pode não ser tempo suficiente para adequar o acordo às exigências da França.
Macron defende regras mais rígidas para importações agrícolas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Ele espera que, em janeiro, as novas regras garantam que os produtores do Mercosul sigam os mesmos padrões exigidos dos europeus — o que, segundo ele, configuraria um “novo” acordo.
Agricultores europeus protestam em Bruxelas
As resistências não vêm apenas dos líderes políticos. Cerca de 10 mil agricultores, acompanhados de mais de 150 tratores, protestaram em Bruxelas durante a reunião do Conselho Europeu. Eles alegam que as salvaguardas propostas ainda são insuficientes para evitar impactos no mercado interno e não garantem concorrência justa, considerando os padrões europeus mais rigorosos.
Mesmo com as barreiras incluídas, representantes agrícolas dizem que as medidas “não oferecem garantias credíveis” aos produtores do bloco.
Acordo pode representar avanço geopolítico
Ursula von der Leyen ressaltou que o acordo com o Mercosul é crucial para a UE não apenas em termos comerciais, mas também diplomáticos e geopolíticos. Ela afirmou que o pacto abre novas oportunidades econômicas e fortalece a posição global da União Europeia, especialmente em um cenário de tensões comerciais e aumento de tarifas internacionais.
Von der Leyen destacou ainda que, com controles e salvaguardas adicionais, a UE protege adequadamente seus agricultores e consumidores.
Mercosul vê resistência europeia como encenação
Do lado do Mercosul, a frustração com o novo adiamento é palpável. Negociadores da região consideram os argumentos europeus, especialmente os franceses, como “pífios” e uma “encenação” para adiar o tratado. O aumento de cota de carne bovina, por exemplo, representa apenas 200 gramas por ano por cidadão europeu, o que torna a resistência vista como desproporcional.
Além disso, os países sul-americanos ressaltam que os principais produtos não terão desgravação tarifária completa, tornando as salvaguardas europeias, na prática, desnecessárias.
Avanços também no apoio à Ucrânia
A reunião do Conselho Europeu também resultou em um acordo para garantir 90 bilhões de euros em financiamento à Ucrânia nos próximos dois anos. A decisão foi comemorada como um marco político que, segundo Von der Leyen, desbloqueou dois dos principais impasses da cúpula: Mercosul e Ucrânia.
Para a presidente da Comissão Europeia, a madrugada foi decisiva. “Quando cheguei de manhã, não havia caminho claro para o Mercosul nem financiamento garantido para a Ucrânia. Às 4h da manhã, alcançamos os dois”, concluiu.


