Por Carolina Villela
O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, que depôs por vídeoconferência da prisão miliar onde se encontra, negou participação em qualquer plano golpista durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira. Atualmente preso, Braga Netto classificou os eventos de 8 de janeiro como “vandalismo” e contradisse frontalmente a versão apresentada pelo tenente-coronel Mauro Cid em sua delação premiada.
Reunião de dezembro foi “visita de cortesia”
Braga Netto contestou veementemente as declarações de Mauro Cid sobre a reunião realizada em sua residência no dia 11 de dezembro de 2022. Segundo o general, não houve encontro marcado, mas sim uma visita de cortesia de aproximadamente 30 minutos. “O coronel Cid faltou com a verdade”, afirmou categoricamente.
O ex-ministro explicou que Cid chegou à sua casa acompanhado de duas pessoas que queriam conhecê-lo. Embora tenha admitido que discutiram sobre intervenção, negou qualquer conversa sobre operações específicas: “Eles não tinham intimidade para entrar em assunto detalhado comigo, não tocaram em assunto nenhum de operação”. Braga Netto também negou ter conversado posteriormente com Cid sobre os temas abordados na reunião.
Negação de envolvimento financeiro e operacional
O general rejeitou qualquer participação no financiamento de atividades suspeitas. Quando procurado por Cid sobre dinheiro, disse ter imaginado que se tratava da campanha eleitoral e o orientou a falar com o tesoureiro do Partido Liberal. “Não pedi dinheiro pra ninguém e não dei dinheiro para o Cid”, ressaltou.
Sobre os planos Punhal Verde e Amarelo e Copa 2022, Braga Netto afirmou ter tomado conhecimento apenas através da mídia. O ex-ministro também negou categoricamente ter ordenado ataques contra chefes militares e disse desconhecer qualquer plano que atentasse contra autoridades. “Eu nunca iria participar de um plano que atentasse contra autoridades”, declarou.
Esclarecimentos sobre declarações polêmicas
O general explicou sua controversa declaração em frente ao Palácio da Alvorada, quando disse que as eleições “não haviam acabado”. Segundo Braga Netto, referia-se ao recurso que o PL apresentaria no TSE, acreditando que “daria alguma coisa”. Ele esclareceu ainda que, durante a reunião de dezembro, quando falou sobre intervenção, tratava especificamente da segurança pública do Rio de Janeiro.
Braga Netto negou ter participado de reuniões sobre urnas eletrônicas e afirmou não ter havido fraude nas eleições de 2022. Sobre suas visitas ao Palácio da Alvorada após as eleições, justificou como uma questão de solidariedade, quando atualizava Bolsonaro sobre notícias do país devido à “falta de empatia” de outros com o presidente, que estaria sofrendo com alguma doença.
Álibi para o 8 de janeiro
Em um dos momentos mais marcantes do depoimento, Braga Netto apresentou seu álibi para o dia 8 de janeiro de 2023. O general afirmou ter saído de Brasília em 26 de dezembro e, no dia dos atos antidemocráticos, passou a manhã jogando vôlei na praia. Foi avisado dos eventos pelo filho e classificou os acontecimentos como “vandalismo”.
O ex-ministro negou contato com financiadores do acampamento golpista e disse desconhecer a existência de um gabinete de crise. Também afirmou nunca ter interferido na atuação policial e negou contato com o general Lourena Cid, pai de Mauro Cid, sobre a delação premiada.
Ao final da audiência, o ministro Alexandre de Moraes anunciou o cancelamento da medida cautelar que impedia contato entre os réus, sinalizando uma nova fase nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que abalou a democracia brasileira.