A indicação para uma vaga no Superior Tribunal de Justiça tem gerado tensões políticas em Alagoas que podem afetar diretamente os planos eleitorais do ex-presidente da Câmara Arthur Lira para 2026. O parlamentar do Progressistas, que até cinco meses atrás figurava entre os políticos mais influentes do país, agora enfrenta articulações que podem comprometer sua pretensão de disputar uma das vagas ao Senado pelo estado nordestino.
A nomeação da procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas, para o STJ tem sido objeto de negociações políticas há oito meses. Adversários de Lira afirmam que ele estaria atrasando deliberadamente a indicação até que haja acordo sobre as chapas majoritárias estaduais. O ex-presidente da Câmara nega as acusações e classifica essa narrativa como estratégia para enfraquecê-lo politicamente.
Articulações familiares complicam cenário
O que torna a situação mais complexa é o parentesco entre a procuradora e o prefeito de Maceió, JHC, do Partido Liberal. Marluce é tia do gestor municipal, que trabalha ativamente para viabilizar sua nomeação ao tribunal superior. Segundo fontes políticas locais, JHC teria se comprometido a abandonar o apoio a Lira caso o presidente Lula confirme a indicação de sua tia.
Essa movimentação representa mudança significativa no tabuleiro político alagoano. JHC, que inicialmente planejava disputar o governo estadual, agora cogita concorrer ao Senado em parceria com Renan Calheiros, adversário histórico de Lira. A chapa seria completada por Renan Filho, atual ministro dos Transportes, na corrida pelo Executivo estadual.
Plano original de Lira sofre ameaças
O projeto inicial de Lira previa disputa ao Senado tendo apenas Renan Calheiros como competidor viável pela reeleição. Essa configuração praticamente garantiria a eleição de ambos os candidatos, considerando a tradição política nordestina de composições prévias para as eleições majoritárias.
Entretanto, a aproximação entre o clã Calheiros e JHC tem alterado esse cenário. O prefeito de Maceió demonstra interesse em deixar o PL e integrar uma chapa que ofereceria forte palanque ao governo Lula em 2026. Essa movimentação contraria acordos anteriores e cria obstáculos aos planos do ex-presidente da Câmara.
Interesse presidencial em novo arranjo
Para o presidente Lula, a configuração proposta representa oportunidade estratégica em Alagoas. Teria seu atual ministro dos Transportes disputando o governo estadual, além de chapa senatorial alinhada ao governo federal. JHC, popular em Maceió, se afastaria do bolsonarismo e do Partido Liberal, fortalecendo a base petista no estado.
A cautela presidencial em relação ao prefeito se justifica pelo histórico recente. JHC trocou o PSB pelo PL entre os turnos das eleições presidenciais de 2022 para apoiar Jair Bolsonaro contra Lula. Embora ensaie há meses deixar a legenda bolsonarista, o movimento ainda não se concretizou.
Encontro no Alvorada gera controvérsias
A reunião entre Lira e Lula no dia 14 de junho, no Palácio da Alvorada, alimentou especulações sobre o tema. Existem versões contraditórias sobre os motivos do encontro, que durou mais de duas horas. Alguns afirmam que o ex-presidente da Câmara pediu para acompanhar Hugo Motta em discussões sobre IOF e emendas parlamentares.
Adversários de Lira sustentam que ele solicitou ao presidente para não decidir a nomeação do STJ enquanto persistir o impasse sobre as chapas majoritárias alagoanas. Aliados do parlamentar contestam essa versão e afirmam que foi o ministro Rui Costa quem trouxe o assunto à tona durante o encontro.
Lista tríplice e outras candidaturas
Além de Marluce, a lista tríplice do STJ inclui Sammy Barbosa Lopes, do Ministério Público do Acre, e Carlos Frederico Santos, do Ministério Público Federal. Lopes conta com apoio do corregedor nacional de Justiça, Mauro Campbell, demonstrando que a disputa não se resume apenas às articulações alagoanas.
O ex-presidente da Câmara mantém a determinação de candidatar-se ao Senado independentemente dos desdobramentos. Seus planos incluem ainda lançar um de seus filhos para vaga na Câmara dos Deputados, evidenciando estratégia familiar de manutenção da influência política no estado.