Por Carolina Villela
O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, negando qualquer tentativa de golpe de Estado e classificando os eventos de 8 de janeiro como uma “manifestação pacífica que acabou em baderna”. O general também rejeitou ter sofrido pressões do ex-presidente Jair Bolsonaro para alterar relatórios sobre o sistema eleitoral.
Pedidos de desculpa e recuos
Nogueira iniciou seu depoimento se desculpando por críticas anteriores ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), admitindo que foram “palavras mal colocadas”. O general também voltou atrás em declaração em que disse que a comissão do TSE era “para inglês ver”, afirmando que “falou sem razão”.
Durante o depoimento, o ex-ministro chegou a confundir o ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de “comandante”. Moraes ironizou a situação: “nas redes sociais já recebi elogios muito piores”.
Relatório das Forças Armadas
Segundo Nogueira, o relatório elaborado pelas Forças Armadas tinha como objetivo apenas fiscalizar o processo eleitoral, não apurar fraudes. Ele negou ter despachado ou alterado o documento e afirmou que o mesmo relatório assinado foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes.
O ex-ministro também relatou que o chefe da equipe informou não ter sido possível concluir os testes no primeiro turno das eleições. Nogueira sustentou que não teve “nenhuma intenção de contrariar ou confrontar a nota do TSE”.
Encontro com hacker e pressões presidenciais
O general confirmou que o coronel Câmara levou o hacker Walter Delgatti Neto para uma reunião no Ministério da Defesa, mas garantiu que ele “não saiu da sala de visita”. Nogueira chamou Delgatti de “criminoso” e disse ter repreendido o coronel por marcar o encontro, além de não ter dado retorno sobre o caso ao então presidente Bolsonaro.
Sobre possíveis pressões presidenciais, Nogueira foi categórico ao negar que Bolsonaro tenha tentado influenciar o relatório: “o presidente da República jamais me pressionou para mandar o relatório, seja no primeiro turno ou segundo turno”.
Estado de sítio e GLO
O ex-ministro revelou ter participado de uma reunião com Bolsonaro sobre um estudo de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Segundo seu relato, alertou o presidente sobre “a seriedade e a gravidade da situação” caso ele estivesse pensando em decretar estado de sítio ou estado de defesa.
Nogueira descreveu o comportamento de Bolsonaro após a derrota eleitoral: “Os quinze primeiros dias do presidente foi quase um velório”, disse, explicando que o ex-presidente ficou “triste e abatido”.
Minuta golpista e carta de militares
O general confirmou ter tido contato com uma minuta no dia 7 de dezembro, a qual chamou de “considerandos”, mas afirmou não ter visto mais o documento depois disso. Sobre a carta escrita por militares, Nogueira disse que, se soubesse de sua existência, teria tentado evitá-la “para não ver companheiros no banco dos réus por conta de uma disciplina boba”.
Negação da trama golpista
Mantendo posição firme, o ex-ministro da Defesa negou qualquer tentativa de golpe: “Pra mim foi uma manifestação pacífica que acabou em baderna. Jamais tentativa de golpe de Estado”, ressaltou.
Clima tenso no final
O depoimento terminou com clima tenso entre Nogueira e seu próprio advogado. Quando questionado sobre uma reunião, o general se irritou: “o senhor vai me perguntar sobre a reunião, cara”. Ele completou dizendo já ter respondido tudo ao “nobre ministro Alexandre de Moraes”, encerrando assim seu depoimento ao STF.