Carolina Vilella
O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, prestou depoimento nesta terça-feira ao Supremo Tribunal Federal e negou categoricamente qualquer participação em tentativas de golpe de Estado. Durante uma hora de interrogatório, Heleno seguiu a estratégia de sua defesa, permanecendo em silêncio na maior parte do tempo e respondendo apenas às perguntas de seu advogado.
O general afirmou que sua atuação se limitava ao preparo e execução das viagens presidenciais, explicando que após o episódio da facada sofrida por Bolsonaro, solicitou à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) um acompanhamento especial dos deslocamentos do então presidente por questões de segurança. Heleno defendeu que o planejamento estratégico para o processo eleitoral sempre foi conduzido de forma “íntegra e cristalina”.
Sobre a polêmica agenda encontrada durante as investigações, que a Procuradoria-Geral da República aponta como sendo a “caderneta do golpe”, Heleno foi enfático ao negar qualquer conotação golpista. “Era um documento particular, secreto”, afirmou, destacando que não apresentava nada que justificasse tal interpretação.
Negativas sobre infiltração e relatórios fraudulentos
O ex-ministro descartou qualquer possibilidade de infiltração de agentes da Abin em atividades eleitorais, argumentando que “não havia tempo para fazer uma infiltração” e que tal prática é constitucionalmente proibida no Brasil. Quando questionado sobre a expressão “virada de mesa” mencionada em reunião ministerial, Heleno esclareceu que se tratava de uma referência figurada à situação política do país.
Heleno negou veementemente ter coordenado a produção de relatórios com informações falsas sobre as eleições de 2022 ou ter orientado a Abin nesse sentido. O general também rejeitou qualquer conhecimento sobre o chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo” e afirmou não ter tido acesso à minuta de decreto golpista nem participado de reuniões para discutir o documento.
Distanciamento de atos antidemocráticos
O ex-ministro foi categórico ao negar contato com os manifestantes envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, afirmando estar “totalmente afastado do GSI” naquela data. Heleno explicou que alguns servidores de sua equipe permaneceram no órgão com autorização do general Gonçalves Dias, seu sucessor.
Sobre sua relação com Bolsonaro, Heleno admitiu uma diminuição nas visitas ao gabinete presidencial após a filiação ao Partido Liberal, justificando que “tinha um monte de gente” no local. Durante o depoimento, protagonizou um momento descontraído ao ser advertido por seu advogado para dar respostas objetivas, brincando com o ministro Alexandre de Moraes: “Não fui eu, general Heleno, que fique nos anais aqui do Supremo, foi o seu advogado”.