Em cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a colocar temas trabalhistas no centro da agenda do governo. Ao lado de sindicalistas e parlamentares, Lula defendeu o fim da escala de trabalho 6×1 e a redução de tributos sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), sinalizando que essas pautas devem ganhar força nos próximos meses.
Governo quer ampliar descanso e aliviar tributos
Ao sancionar o projeto que isenta do Imposto de Renda os salários de até R$ 5 mil, Lula aproveitou a ocasião para lançar bandeiras que sua gestão pretende priorizar até 2026. O presidente fez críticas ao modelo de jornada de trabalho vigente no país desde a década de 1940 e defendeu que o trabalhador tenha direito a dois dias de descanso por semana.
“Não podemos continuar com a mesma jornada de trabalho de 1943”, disse Lula, referindo-se à escala 6×1, que obriga o trabalhador a atuar seis dias seguidos com apenas um de folga. Segundo ele, o avanço da tecnologia deveria ter reduzido o esforço físico do trabalhador, mas o que se viu, especialmente na indústria, foi o contrário.
Escala 6×1 mira centro do debate eleitoral
A crítica à jornada 6×1 está no radar do governo como uma aposta para recuperar a popularidade até as eleições de 2026. A ideia é mobilizar o eleitorado em torno de propostas que melhorem diretamente as condições de trabalho. A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), uma das defensoras do tema no Congresso, esteve presente na cerimônia, reforçando o caráter político da sinalização feita por Lula.
Além da jornada, o presidente também defendeu a redução da carga tributária sobre a PLR. O bônus, concedido por empresas com base no desempenho do funcionário, é atualmente tributado como renda. Lula argumentou que permitir que trabalhadores recebam mais recursos líquidos pode beneficiar a economia por meio do aumento do consumo.
PLR como instrumento de estímulo ao consumo
“Quem trabalha igual um desgraçado vai ter imposto sobre participação nos lucros no fim do ano?”, questionou o presidente. Segundo ele, é o consumo da população de baixa renda que movimenta a economia — e não o acúmulo financeiro dos mais ricos. Para Lula, quanto mais o trabalhador consome, mais a economia gira.
A fala também teve uma crítica indireta ao atual sistema fiscal, que, em sua visão, penaliza quem mais trabalha. “Rico não fica mais pobre se o pobre consumir mais, o rico fica mais rico, vende mais caro”, afirmou. A declaração foi recebida com entusiasmo pelos apoiadores presentes, em sua maioria ligados a sindicatos e movimentos sociais.
Avanço da tecnologia e novo papel do Estado
Ao refletir sobre o impacto das tecnologias no mercado de trabalho, Lula afirmou que “vai chegar o momento” em que o Estado terá que lidar com o desafio de garantir sustento a milhões de pessoas que poderão ser excluídas do sistema produtivo. “Vai chegar o momento em que a Fazenda vai ter que analisar quem vai ser o responsável por garantir a sobrevivência de milhões de inúteis que vão ser criados no mundo”, afirmou.
A fala gerou reações nas redes sociais, tanto de apoio quanto de críticas. Para os defensores, trata-se de um alerta sobre os riscos da automação descontrolada. Para opositores, a escolha do termo “inúteis” foi vista como inadequada.
Ainda assim, a fala do presidente reforça o tom do governo em buscar protagonismo nas discussões sobre o futuro do trabalho, especialmente diante de um Congresso que já começa a se mobilizar em torno de pautas econômicas e sociais de olho nas eleições de 2026.



