Da Redação
O Superior Tribunal Militar declarou por unanimidade a indignidade do oficial que liderou esquema de notas fiscais falsas no Hospital Militar de Área de Recife, resultando no maior prejuízo registrado pela unidade em casos de estelionato. Com a decisão, o militar perde o posto de coronel do Exército Brasileiro.
O coronel foi condenado por liderar um esquema de estelionato que causou prejuízo superior a R$ 4,4 milhões ao Hospital Militar de Área de Recife (HMAR). A decisão, que declarou a indignidade do oficial para o exercício da função militar, marca o desfecho de um dos maiores casos de fraude já registrados na unidade pernambucana.
Esquema funcionava com notas falsas
À época dos crimes, o coronel ocupava o cargo de diretor do HMAR e ordenador de despesas e nessa função foi identificado como principal articulador de um elaborado sistema de fraudes que operou através da emissão fraudulenta de notas de empenho e fiscais. O esquema simulava a compra de materiais de informática e medicamentos que jamais foram entregues à instituição.
Segundo investigação do Ministério Público Militar (MPM), as fraudes ocorreram em 94 ocasiões distintas, sempre com o oficial aproveitando-se de sua posição de confiança para autorizar pagamentos irregulares. Na condição de ordenador de despesas, o coronel tinha autoridade para liberar recursos financeiros, função que utilizou para viabilizar os crimes.
Outros militares já perderam patentes
O caso não se limitou ao coronel principal. Outros militares já tiveram declarada a perda do posto e da patente por participação no esquema criminoso, incluindo um tenente-coronel da reserva, um primeiro-tenente e uma primeira-tenente da reserva que era responsável pelo almoxarifado do hospital.
A investigação revelou que o coronel ignorou sistematicamente alertas formais sobre irregularidades nos estoques da unidade e continuou assinando autorizações de pagamento mesmo diante de documentos com inconsistências evidentes.
Condenação Confirmada em Todas as Instâncias
Em 2020, o Juízo da 7ª Auditoria Militar de Recife, primeira instância da Justiça Militar da União (JMU), condenou o oficial a oito anos de reclusão. A decisão foi posteriormente confirmada pelo próprio STM em sede de apelação, em face da solidez das provas apresentadas pelo MPM.
Os ministros do STM destacaram em seus votos o “especial desprezo” demonstrado pelo oficial em relação às suas funções institucionais. Para o tribunal, a conduta representa não apenas uma violação da honra pessoal, mas também do pundonor militar, do decoro da classe e da imagem do Exército Brasileiro perante a sociedade.
Indignidade protege valores das Forças Armadas
A representação de indignidade, diferentemente do processo criminal, não revisa a condenação já transitada em julgado, mas avalia especificamente se a conduta do militar permanece compatível com os princípios éticos e morais que regem as Forças Armadas.
O STM considerou que a prática reiterada de estelionato contra a própria instituição militar constitui comportamento absolutamente incompatível com a condição de oficial, ferindo gravemente os valores fundamentais da hierarquia e da disciplina que sustentam a estrutura militar.
A decisão reforça o compromisso da Justiça Militar em preservar a integridade das instituições militares, demonstrando que desvios éticos e criminais, independentemente da patente do envolvido, serão rigorosamente punidos com a perda da condição militar.