O policial militar Henrique Otávio Velozo, de 34 anos, será julgado pelo assassinato do campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo nesta quinta-feira. O caso ocorreu há 21 meses. O julgamento acontece nesta quinta-feira no Tribunal do Júri do Fórum da Barra Funda, em São Paulo, onde o réu responderá pela execução do atleta com um tiro à queima-roupa na testa durante um show de pagode no Esporte Clube Sírio.
O Ministério Público acusa Velozo de ter matado friamente o lutador na madrugada de 7 de agosto de 2022. Para a promotoria, o crime foi motivado por vingança e humilhação após o PM ter sido imobilizado por Leandro durante uma discussão na boate. A acusação sustenta que houve premeditação no assassinato.
Versões conflitantes sobre a dinâmica do crime
O réu alega ter agido em legítima defesa, afirmando em interrogatório que foi atacado de forma repentina pelo lutador. Velozo sustentou que Leandro aplicou um golpe de “baiana” seguido de estrangulamento, fazendo-o desmaiar. “Não tive a intenção de matar. Atirei para proteger a minha vida”, declarou o policial ao juízo durante a fase de instrução.
Segundo a versão da defesa, ao recobrar a consciência, Velozo ainda estaria sob domínio físico do atleta. Temendo nova agressão e a possibilidade de ter sua arma tomada, sacou a pistola e efetuou um único disparo. O réu justificou o tiro frontal como procedimento padrão em ambientes lotados, mas sua versão apresenta contradições sobre a dinâmica do disparo.
Testemunha ocular contradiz versão da defesa
O lutador Bruno Nobete Miranda, de 40 anos, testemunha ocular do assassinato, deverá confirmar em plenário os detalhes que reforçam a acusação. Em seu depoimento, relatou que Velozo se aproximou da mesa dos atletas dançando de forma provocativa e pegou a garrafa de uísque do grupo. Leandro segurou o pulso do policial e pediu que largasse o objeto: “Essa garrafa não é sua”.
Bruno afirmou que após a imobilização, Velozo se levantou, colocou o boné e se afastou em direção à saída. Pouco depois, retornou agachado e correndo, sacou a arma e atirou à queima-roupa na testa de Leandro. Depois do disparo, ainda chutou o rosto da vítima caída, segundo o depoimento da testemunha.
De acordo com o lutador, os atletas já conheciam Velozo de episódios anteriores e Leandro havia relatado desentendimentos com o policial. Isso incluía um episódio no bar Santo Cupido, onde o campeão disse ter “apavorado” o réu em outra ocasião.
Comportamento suspeito após o crime
Após o assassinato, o policial seguiu para a Boate Bahamas, ponto conhecido de garotas de programa. Gabriela Roberta de Araújo Lira, de 25 anos, afirmou em depoimento à polícia que Velozo chegou sozinho ao local. Após combinarem um programa, foram ao motel Astúrias, onde permaneceram até 10h30, ultrapassando o tempo acordado inicialmente.
Durante a permanência no motel, Velozo percebeu que estava sem o celular ao ser cobrado por Gabriela. O aparelho foi devolvido por volta das 13h por um taxista, e ao acessar o conteúdo, o policial viu notícias que o apontavam como autor do crime. Segundo a testemunha, Velozo “transfigurou o rosto”, negou o crime em ligações com familiares e demonstrou crescente nervosismo.
Gabriela notou manchas vermelhas no tênis direito do policial. Quando questionado sobre as manchas, Velozo disse que era um drink chamado “rosinha”, versão considerada suspeita pela investigação.
Estratégias da defesa e antecedentes do réu
A defesa do policial, liderada pelo advogado Cláudio Dalledone, aposta na estratégia de desconstruir a imagem de Leandro Lo. Em vídeo divulgado nas redes sociais, a defesa mostra o atleta envolvido em brigas, incluindo uma agressão a um motoboy. A tática visa influenciar a percepção dos jurados sobre a vítima.
Por outro lado, a ficha policial do réu será usada contra ele pela acusação. Antes do assassinato, Velozo já havia sido processado na Justiça Militar por desacato e violência contra uma subordinada. Inicialmente absolvido, foi condenado após recurso e recebeu pena em regime aberto, além de ter histórico de sanções administrativas.
Esses antecedentes devem ser explorados em plenário pela acusação para demonstrar que Velozo possui um padrão de comportamento incompatível com a função policial. O julgamento promete ser um dos mais acompanhados casos criminais envolvendo atletas no país.