Da Redação
A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira (16) o desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, integrante do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), no âmbito da segunda fase da Operação Unha e Carne. A investigação apura o vazamento de informações sigilosas relacionadas a ações policiais contra o crime organizado, envolvendo autoridades públicas e processos sob segredo de Justiça.
A prisão, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), colocou novamente o nome do magistrado no centro do noticiário nacional. Segundo reportagens do Metrópoles, a apuração indica que dados protegidos por sigilo teriam sido repassados de forma antecipada, comprometendo a eficácia de uma operação que mirava um político suspeito de ligação com facção criminosa.
O desembargador foi conduzido à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. A defesa nega irregularidades e afirma que irá questionar judicialmente a legalidade da prisão.
Trajetória na magistratura federal
Natural do Espírito Santo, Macário Júdice Neto ingressou na magistratura federal no início da década de 1990, após aprovação em concurso público. Ao longo da carreira, atuou como juiz federal em diferentes unidades e ocupou funções administrativas relevantes no Judiciário.
Entre os cargos exercidos, esteve à frente da direção do foro da Justiça Federal no Espírito Santo e integrou o Tribunal Regional Eleitoral do estado. Sua atuação no TRF-2 o colocou em processos de grande repercussão, especialmente em ações penais e investigações complexas.
Antes da prisão desta terça-feira, Júdice Neto exercia o cargo de desembargador federal e figurava como relator em casos sensíveis, o que, segundo investigadores, ampliou o alcance e a gravidade das suspeitas que recaem sobre ele.
Longo afastamento e retorno ao cargo
A carreira do magistrado foi marcada por um extenso período de afastamento. Em 2005, ele foi retirado das funções após o recebimento de denúncia envolvendo suspeitas de venda de decisões judiciais e favorecimento a esquemas ilegais ligados a jogos de azar.
Embora tenha sido absolvido na esfera criminal anos depois, Júdice Neto permaneceu afastado por conta de um processo administrativo disciplinar. Conforme noticiado pela Folha Vitória, o afastamento se estendeu por quase 18 anos, um dos mais longos já registrados no Judiciário federal.
Somente em 2022 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconheceu a prescrição da pretensão punitiva administrativa, determinando sua reintegração à magistratura. No ano seguinte, ele foi promovido ao cargo de desembargador federal pelo critério de antiguidade.
Nova investigação e suspeita de vazamento
A prisão desta terça-feira ocorre no contexto de uma investigação que apura o vazamento de informações sigilosas sobre uma operação policial direcionada a integrantes do crime organizado. De acordo com a Polícia Federal, há indícios de que dados sensíveis tenham sido compartilhados antes do cumprimento das medidas judiciais.
Segundo o Metrópoles, a apuração envolve conexões entre agentes públicos e autoridades políticas, com possível interferência indevida em ações destinadas ao combate a facções criminosas. O papel do desembargador no processamento de casos relacionados à investigação é um dos pontos centrais da apuração.
Para a PF, o vazamento de informações compromete não apenas operações específicas, mas a própria credibilidade das instituições encarregadas de combater o crime organizado.
Repercussão institucional
A prisão de um desembargador em exercício reacende o debate sobre os mecanismos de controle e responsabilização no Judiciário. O caso volta a expor tensões entre decisões administrativas, reintegrações funcionais e a necessidade de preservar a integridade institucional.
O processo tramita sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal, que deverá analisar os próximos desdobramentos da investigação. Enquanto isso, o TRF-2 ainda não divulgou posicionamento oficial sobre a situação funcional de Macário Júdice Neto.
O episódio marca mais um capítulo sensível na trajetória do magistrado e coloca novamente o Judiciário sob escrutínio público em meio às investigações que miram a relação entre poder institucional e crime organizado.



