STF lança programa para levar trabalho a 50% da população carcerária do país

Há 1 hora
Atualizado sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Da redação

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Edson Fachin, lançou nesta sexta-feira (31), em Bauru (SP), uma série de ações voltadas ao enfrentamento da crise no sistema prisional brasileiro. A principal iniciativa é o Emprega Lab Nacional, programa que estabelece como meta ambiciosa alcançar 50% da população carcerária com oportunidades de trabalho decente e renda, garantindo remuneração mínima e condições dignas. Atualmente, 74,4% das pessoas presas no Brasil não trabalham, e entre as que trabalham, 47,1% não recebem qualquer remuneração.

As ações fazem parte do programa Pena Justa, criado para combater a situação de calamidade nas prisões brasileiras e quebrar o ciclo de reincidência criminal. Durante o evento em Bauru, o ministro Fachin também inaugurou a primeira unidade do serviço de Atendimento à Pessoa Custodiada (APEC) na Justiça estadual de São Paulo e instalou duas varas especializadas em violência doméstica. O presidente do CNJ enfatizou que a violência que assola diversos estados passa necessariamente pela reinserção dos egressos do sistema penal na sociedade.

Emprega Lab promove trabalho decente no sistema prisional

O Emprega Lab Nacional funcionará como um hub de inovação e governança, reunindo representantes do Judiciário, do Executivo, do empresariado e da sociedade civil em torno da promoção do trabalho decente dentro das unidades prisionais. A iniciativa busca desenvolver diretrizes estratégicas e modelos de financiamento sustentável para ampliar as oportunidades de trabalho e renda para pessoas privadas de liberdade e egressas do sistema penal.

“Se nós obviamente nos tornamos abismados com a violência que em determinados locais do país acaba vitimando pessoas, cidadãos e também policiais e agentes públicos, de outro lado nós devemos tratar das soluções. E as soluções passam para que quem saia do encarceramento não volte a delinquir. Essa porta giratória da reincidência é um círculo vicioso que precisa ser quebrado”, afirmou o ministro Fachin durante o lançamento do programa.

O Emprega Lab é resultado de uma parceria entre CNJ, Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen/MJSP), Tribunal Superior do Trabalho (TST) e Ministério Público do Trabalho (MPT). A estratégia visa enfrentar diretamente o déficit de trabalho e renda que caracteriza o sistema prisional brasileiro, onde a esmagadora maioria dos detentos permanece ociosa, sem qualquer perspectiva de qualificação profissional ou geração de renda.

Duas frentes de atuação para transformar realidade prisional

A versão nacional do Emprega Lab atuará em duas frentes principais, ambas essenciais para o sucesso da iniciativa. A primeira é a governança, voltada à elaboração de diretrizes estratégicas e de modelos de financiamento para garantir a execução sustentável de ações nos estados e municípios. Essa frente estabelecerá os parâmetros e padrões que deverão ser seguidos em todo o território nacional.

A segunda frente é a articulação, responsável pela prospecção de parcerias público-privadas, pelo acompanhamento da implementação das ações e pela integração entre instituições públicas e sociedade civil. O ministro Fachin explicou que o Emprega Lab vai atuar no desenvolvimento dessas diretrizes para promover o trabalho decente no sistema prisional, seguindo exemplos bem-sucedidos que já funcionam em diversas unidades prisionais pelo país.

Além do laboratório nacional, o CNJ e seus parceiros estão fomentando a criação dos Emprega Labs Estaduais, cuja primeira unidade foi lançada na Paraíba na semana passada. Essas instâncias serão vinculadas aos Comitês Estaduais de Políticas Penais e atuarão no planejamento e execução de ações voltadas à qualificação profissional, ao empreendedorismo e à intermediação de vagas de trabalho, sempre de acordo com as diretrizes estabelecidas nacionalmente.

Atendimento humanizado nas audiências de custódia

Outro marco importante do evento foi a instalação da primeira unidade do serviço de Atendimento à Pessoa Custodiada (APEC) na Justiça estadual de São Paulo, em Bauru. As APECs também fazem parte das metas do programa Pena Justa e já estão presentes em 64 localidades de 26 unidades da federação. Esses espaços funcionam como ambientes de acolhimento e avaliação de pessoas conduzidas a audiências de custódia.

Nas APECs, equipes multidisciplinares coletam informações detalhadas para subsidiar a decisão judicial sobre a manutenção ou não da prisão preventiva, além de realizar encaminhamentos de proteção social que se façam necessários. “O Estado não tem o direito de desumanizar aquele que precisa ser reinserido socialmente. É preciso que o apenado, o custodiado, receba esse acompanhamento”, destacou o ministro Fachin.

O presidente do CNJ defendeu enfaticamente que os juízes priorizem audiências de custódia presenciais para permitir ao preso a garantia de seus direitos fundamentais. Segundo ele, a presencialidade é essencial para que o magistrado possa conhecer verdadeiramente quem está sendo julgado e identificar eventuais violações de direitos.

Presencialidade garante direitos fundamentais

“Um juiz ou juíza podem decidir melhor quando sabem com quem lidam, quem são as pessoas que se apresentam, e quando sabem com base em anamnese social: quem são, como ali chegaram. Tudo isso faz entender melhor a repercussão da Justiça sobre essas pessoas”, explicou o ministro. Ele ressaltou ainda a importância da presencialidade “para identificar indícios de eventuais maus tratos e, quiçá, até mesmo tortura e realização do exame de corpo de delito prévio”.

Durante o evento, foram distribuídos exemplares do Manual de Proteção Social na Audiência de Custódia, publicação que detalha o funcionamento da metodologia da APEC e foi lançada pelo CNJ em 2020. O material serve como guia para profissionais que atuam nessas unidades, estabelecendo protocolos e procedimentos padronizados.

A nova unidade da APEC em Bauru funcionará junto à Vara de Garantias e será mantida por meio de parceria entre o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e o poder público local. No mesmo evento, também foram instaladas duas varas especializadas em violência doméstica, ampliando a estrutura de enfrentamento à violência de gênero no estado de São Paulo e demonstrando o compromisso do Judiciário com a proteção de grupos vulneráveis.

Autor

Leia mais

Sabatina de Paulo Gonet para novo mandato como PGR será em 12/11

CCJ aprova recondução de Paulo Gonet à frente da PGR; sabatina está marcada para 12 de novembro

Há 3 minutos
Vinícius Motta

Para Ti, e para nós. O violão de Vinicius Motta

Há 11 minutos
O ministro Edson Fachin, presidente do STF, convocou sessão extraordinária para julgar descriminalização do aborto.

Crime organizado virou questão de Estado e não só das grandes cidades, diz Fachin em lançamento de programa para presos

Há 12 minutos
IML do Rio de Janeiro

Governo do Rio identifica 99 mortos em megaoperação e diz que 42 eram procurados

Há 48 minutos
Mototaxistas circulando em São Paulo

STF analisa suspensão de lei paulista que regulamenta mototáxi por aplicativo

Há 59 minutos
TJPE anula portaria que obrigava clubes de futebol a jogar sem presença dos torcedores

TJPE anula portaria que proibia presnça da torcida do Sport e Santa Cruz por cinco jogos

Há 1 hora
Maximum file size: 500 MB